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Honrarás Tua Mãe (filme)
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Honrarás Tua Mãe

Avaliação:
8.5/10

8.5/10

Crítica | Ficha técnica

No estilo tradicional do cinema indiano, Honrarás Tua Mãe (Mother India) é um drama e musical épico que evoca várias emoções. Os protagonistas, assim, transitam entre o romântico, o cômico, o furioso e o maravilhoso, de acordo com cada episódio da trama. Ao mesmo tempo, o filme valoriza a terra, a mulher e a comunidade, como veremos a seguir.

No centro da narrativa se encontra Radha, interpretada pela estrela indiana Nargis. Começa com um flash forward instigante, no qual a protagonista, já idosa, reluta em comemorar a chegada da água canalizada às suas terras. Nesse momento de avanço à modernidade, ela faz um retrospecto de sua vida de sacrifícios. Com esse gatilho emocional, se inicia sua história, e ao longo dela descobriremos o motivo de sua incapacidade de embarcar nesse tardio passo para um futuro melhor.

Os esforços de Radha

Voltamos no tempo, ao dia do casamento de Radha com Shamu, em uma vila no interior. Em seguida ao trecho de festividade, regado a música e dança, o roteiro entrega a origem de todo o infortúnio da personagem principal. Para conseguir o dote para o matrimônio, a sogra de Radha compra um pedaço de terra mediante um empréstimo junto a Sukhi, o agiota do vilarejo. Este, aproveitando-se da ignorância dela, como sempre fazia, faz um contrato no qual o casal precisa dar três quartos de cada colheita como pagamento de juros – porém, o principal continua intacto, o que resulta numa dívida que nunca será liquidada. Logo, a família empobrece. Radha tem a ideia de trabalharem também num pedaço de terra que pertence a eles, e que não faz parte da dívida. Dessa forma, a colheita integral desse lugar lhes pertenceria. No entanto, o terreno é cheio de pedras, e na tentativa de remover uma rocha, Shamu sofre um acidente e fica inválido. Envergonhado por viver às custas da mulher, ele vai embora.

Sozinha, Radha precisa trabalhar na terra para sustentar seus filhos. Mas, como todo bom melodrama indiano, mais tragédias surgem em sua vida. Entre elas, uma inundação que deixa a família no mais grave estado de penúria. Os moradores da vila começam a ir embora, mas Radha está determinada a ficar e valoriza a sua terra, pela qual ela já se sacrificou muito. Seu brio motiva outros moradores, que decidem ficar. Surge, então, no filme, uma montagem com os esforços de Radha e seus pequenos filhos para recuperar o solo para o plantio. Com uma transição em justaposição, a trama salta no tempo até os filhos estarem em idade adulta. Após tantos anos, vemos que o trabalho árduo deu resultado.

Mãe, terra, filhos, irmãs

Contudo, o filho mais novo de Radha, Birju, se rebela contra o contrato leonino de Sukhi. Responsável pelos trechos mais engraçados e ternos da primeira parte do filme, Birju sempre foi arrojado. Agora que é um jovem adulto, ele se tornou um problema para a mãe. Não quer trabalhar, passa o dia jogando e provocando as moças da vila. Chega até a ameaçar fisicamente o agiota. O enredo, então, revela a importância da comunidade. Os jovens são considerados como irmãos, e os mais velhos como mãe e pai. Por isso, quando as irmãs se reúnem para reclamar de Birju, a mãe Radha precisa dar um jeito no filho. E, quando Sukhi incita os moradores, todos querem expulsar Birju da vila. Na conclusão da história de Radha, ela não reluta em defender uma das irmãs diante do filho que quer agredir a moça.

Através desse enredo repleto de eventos dramáticos, Honrarás Tua Mãe ressalta a força da mulher. Similarmente a A Canção da Estrada (Pather Panchali, 1955), o filme neorrealista de Satyajit Ray, o marido se ausenta, e cabe à mãe lutar pela sobrevivência dos filhos pequenos. Desta vez, além da família, a protagonista se dedica também à sua terra, valorizando-a até com sentimentalismo, daí sendo incapaz de abandoná-la. Além disso, a personagem coloca a comunidade acima do amor aos filhos. Esse dever civil reflete o princípio da moralidade, o que justifica que Radha não aceite o ato desprezível de Birju. Por fim, talvez caiba também uma metáfora do colonialismo na figura do agiota. Afinal, o filme foi lançado em 1957, dez anos após a independência da Índia de seus colonizadores britânicos que, como Sukhi, se apropriavam da produção interna do país.

Experiência completa

O diretor Mehboob defendia uma Índia nacional e não aquela pós-partição. Isso fica evidente na cena com a forma do mapa da Índia com os trabalhadores em cima. O mapa inclui, por exemplo, o território do Paquistão. Visualmente, destacam-se também o canal de irrigação com sangue, simbolizando os sacrifícios que aquela terra demandou até a chegada desse modernismo. Pelo lado cinematográfico, vale apontar os recorrentes planos com a silhueta dos personagens com o sol do crepúsculo ao fundo, imagem muito utilizada por John Ford.

Um dos clássicos maiores do cinema indiano, Honrarás Tua Mãe é o 22º filme do diretor Mehboob Khan. Representa o tradicional cinema regional da Índia, com altas doses de melodrama acentuadas pelos longos números musicais, que entram abruptamente na tela após um evento de grande emoção. Longe de ser realista, o longa ainda apresenta vários momentos de alívio cômico. O resultado é uma experiência completa, que mexe com diversas sensações ao longo de quase três horas.  

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Ficha técnica:

Honrarás Tua Mãe | Mother India | 1957 | 176 min | Índia | Direção: Mehboob Khan | Roteiro: Wajahat Mirza, S. Ali Raza | Elenco: Nargis, Sunil Dutt, Rajendra Kumar Tuli, Raaj Kumar, Kanhaiyalal Chaturvedi, Jillo, Kumkum, Chanchal, , Sheela Naik, Mukri, Sitara Devi, Sajid Khan.

Onde assistir:
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