Seria utopia a ciência avançar tanto a ponto de evitar que os humanos morram, certo? Não é o que o anime em longa-metragem Human Lost coloca em discussão. Onde ficaria, então, o direito de morrer? Na trama, um dos preços a se pagar seria a perda da humanidade, como alerta o próprio título da obra. Um antídoto que anula os efeitos da cura total, desenvolvido pelo inventor da tecnologia, Masao Horiki, agora um oponente da sua aplicação, pode revelar o que sobra por trás da pessoa sobrevivente: um monstro (chamado de Perdido). Acontece que existe uma grande corporação que explora a tecnologia, disponível apenas para os ricos, a SVE – Saúde e Vida Eterna. Então, Horiki e a SVE entram num conflito cada vez mais devastador. Nessa batalha, quem são os heróis e os vilões. Na verdade, ninguém, como a conclusão pessimista define.
Não é preciso ser um expert em animes de ficção-científica para identificar vários pontos não originais nesse enredo. Por exemplo, do clássico Akira (1988), Human Lost busca a gangue de motociclistas rebeldes, o protagonista messiânico, o final apocalíptico. O questionamento dos avanços da ciência já estava proeminente em Ghost in the Shell (1995).
Mas, por outro lado, a tecnologia de animação, a computação gráfica em modelagem 3D da Polygon Picture, traz uma novidade técnica que agrada apreciadores de animes mais recentes.
Diferente do citado Akira, este longa não investe em questões sobrenaturais. Aqui, quem dá as cartas é a ciência. Por isso, o roteiro procura detalhar como seria essa tecnologia revolucionária. Segundo ela, seriam quatro grandes revoluções no tratamento médico, o MRNP. Ou seja: Manipulação genética, Regeneração, Nanomáquinas e Panaceias. Mas os avanços tecnológicos erram ao menosprezar a essência humana. Afinal, as pessoas não são apenas os seus corpos, mas principalmente o intangível, a alma que pode sofrer apesar do organismo saudável.
Conclusão pessimista
Human Lost prefere não solucionar esse dilema. Segundo sua conclusão trágica, o melhor mesmo é não evoluir a ciência a tal ponto. O inventor Masao Moriki se arrepende tanto quanto Oppenheimer ao desenvolver a bomba atômica. Como ele próprio comenta, sua invenção só serviu para enriquecer os velhos gananciosos.
A arte merece elogios, desde as figuras dos personagens até as paisagens contrastante entre o lado rico e o pobre da cidade. Não foge dos clichês, como os outdoors em neon que ficaram famosos em Blade Runner (1982) e os monstros que tampouco soam como novidade. Porém, Human Lost carece de um enredo mais profundo, em especial quanto a sua conclusão niilista. Nesse sentido, é melhor ler o livro de Osamu Dazai, no qual o filme se inspira.
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Ficha técnica:
Human Lost | Ningen shikkaku | 2019 | Japão | 110 min | Direção: Fuminori Kizaki | Roteiro: Tow Ubukata.
Distribuição: Sato Company.