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Ida (filme)
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Ida

Avaliação:
9/10

9/10

Crítica | Ficha técnica

A sublime direção de Pawel Pawlikowski em “Ida”

“Ida” ficou conhecido mundialmente quando recebeu o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2015. É um trabalho de elevado talento do diretor polonês Pawel Pawlikowski e das atrizes Agata Kulesza e Agata Trzebuchowska.

O filme se passa na Polônia dos anos 1960. Anna (Trzebuchowska) é uma noviça prestes a ser ordenada. Mas, antes, procurará sua única parente, sua tia Wanda (Kulesza), que nunca conheceu, a pedido da madre superiora. Como a órfã Anna foi entregue aos cuidados da igreja ainda pequena, ela jamais havia conhecido outros lugares. Ida é o nome original de Anna.

Wanda lhe revela que sua origem é judia, e ironiza o fato de ela se tornar brevemente uma freira. As duas começam uma jornada até o local onde a família delas vivia, para descobrir onde a mãe de Anna está enterrada. Durante essa curta viagem, Wanda confrontará um trauma de seu passado que a conduz a um comportamento autodestrutivo. Apesar da carreira respeitável como juíza, Wanda não sente amor próprio e se entrega a bebidas e sexo com estranhos. Para Anna, será uma oportunidade de conhecer mais do mundo e de si mesma.

Quando retornam, Anna sente dúvidas sobre sua vocação a freira. Uma segunda jornada, então, será necessária. Enquanto isso, Wanda toma uma dura decisão.

Direção com maestria

O diretor Pawel Pawlikowski demonstra que sabe manejar a câmera com maestria. Em geral, filma de forma econômica, sem transgressões e sem planos longos. Aliás, mantém o enquadramento estático na cena mais dramática de “Ida”, colocando o espectador em posição de testemunha passiva, e não participativa, o que aconteceria se a câmera acompanhasse o movimento da personagem.

Enfim, o plano mais longo é reservado para o momento final do filme, quando acompanha a caminhada firma de Anna, já segura sobre o que quer de sua vida. Além disso, Pawlikowski ousa ao quebrar a regra do eixo na cena do casal na cama, sem, contudo, desnortear o espectador, forçando sua atenção para o momento que é crucial para a decisão da personagem em foco.

Por outro lado, a cena do jantar no convento que acontece no início do filme é recriada pelo diretor após a primeira viagem, para mostrar que Anna ainda não tem certeza se deseja a ordenação. Essa sensibilidade permeia todo o filme, enfatizando o silêncio dessa personagem, criada dessa forma desde tenra idade. Em outra sequência, no quarto do hotel onde as duas parentes dormem, Anna reza à beira da cama, tendo atrás de si uma fraca sombra de uma cruz criada pela luz que atravessa a janela. O espectador ainda não sabe, mas a incerteza sobre sua vocação já está chegando a Anna. A fotografia em preto e branco acentua esta última cor, realçando a delicadeza da abordagem.

Enquadramento baixo

A maior demonstração de talento de Pawlikowski, aliás, permeia todo o filme. Ele utiliza o enquadramento mais baixo do que o convencional, causando inquietude no espectador. Repare como a freiras sentadas à mesa no começo do filme estão focadas a partir do busto, enquanto “sobram” espaços acima delas no enquadramento. Aliás, quem assiste sente vontade de puxar a câmera para enquadrá-las verticalmente mais ao centro. E esse recurso se repete muitas vezes ao longo da exibição de “Ida”, transmitindo a sensação de que o que está acima, o espiritual, importa mais que o físico. A personagem Wanda comprova essa crença, destruindo seu corpo em prazeres carnais, reflexo da inquietude em seu espírito.

Com tudo isso, “Ida” desperta a curiosidade de descobrir se os quatro longa-metragens anteriores de Pawel Pawlikowski sugerem esse talento demonstrado aqui”.


Ficha técnica:

Ida (Ida, 2013) 82 min. Dir: Pawel Pawlikowski. Rot: Pawel Pawlikowski, Rebecca Lenkiewicz. Com Agata Kulesza, Agata Trzebuchowska, Dawid Ogrodnik, Jerzy Trela, Adam Szyszkowski, Halina Skoczynska, Joanna Kulig, Dorota Kuduk, Natalia Lagiewczyk, Afrodyta Weselak, Mariusz Jakus, Izabela Dabrowska.

Leia tambem: crítica de “Guerra Fria”

Assista: entrevista de Pawel Pawlikowski nos bastidores do Oscar

Onde assistir:
Ida (filme)
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