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Identidade (filme)
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Identidade

Avaliação:
6/10

6/10

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Crítica | Ficha técnica

Identidade (Passing, 2021) é a surpreendente estreia na direção da atriz Rebecca Hall, que também escreveu o roteiro do filme. É uma adaptação do livro “Passing”, de Nella Larsen, publicado em 1929. O tema, sobre mulheres negras que se faziam passar por brancas (daí o título original), rendeu duas famosas versões de Imitação da Vida (Imitation of Life), de 1934 e 1959, adaptadas do romance de Fannie Hurst, de 1933.

A história se passa nos anos 1920, em Nova York e se inicia quando duas mulheres negras, antigas amigas de escola, Irene (Tessa Thompson) e Clare (Ruth Negga), se reencontram. Elas gozam de posição social privilegiada. O marido de Irene, Brian (André Holland), é médico e o casal tem dois filhos pequenos. Já Clare tem um filho e é casada com John (Alexander Skarsgård). Logo, um conflito surge porque Clare finge ser branca para o marido, que é racista, o que choca Irene, que não esconde suas origens e ainda participa ativamente de uma instituição chamada Liga dos Negros.

Clare insiste em retomar a amizade, apesar da relutância de Irene. Enquanto Clare se entusiasma ao reatar o contato com suas origens negras, nasce um ciúme crescente de Irene. Ela se vê ofuscada pela presença esfuziante da antiga amiga, tanto em relação aos amigos, quanto ao próprio marido.

A direção

Como diretora, Rebecca Hall surpreende ao debutar com escolhas não convencionais. Para começar, trabalha a imagem como recurso que insere o filme no período retratado em sua trama. Por isso, opta pelo formato de tela do cinema da época, o 1.37 : 1, mais próximo do quadrado. Além disso, insiste no uso do desfoque para retratar os sentimentos da protagonista, principalmente quando tomada pelo ciúme.

Mas, acima de tudo, é a fotografia, de responsabilidade de Eduard Grau, que mais chama a atenção. O preto e branco profundo e contrastante não só reproduz a produção dos anos 1920. Primeiro, se relaciona tematicamente com o conflito de raças abordado na história. E, por isso, o branco estourado na tela incomoda, ressaltando o quando a cor da pele importa naquele ambiente social. Tecnicamente, o preto e branco ainda auxilia a clarear a pele das protagonistas, em especial de Clare, que deve ser branca o suficiente para a história funcionar.

Outro recurso notável, entre os nuances da direção além de correta de Rebecca Hall, é a recorrente apresentação dos personagens a partir dos pés. Desde a introdução, até aqueles personagens que surgem posteriormente ao longo do filme, a câmera capta seus pés, e deixa por último o rosto. Dessa forma, a diretora cria um pequeno suspense em relação à cor da pele, toda vez que surge um novo personagem. Talvez, uma provocação para constatar o quanto isso importa para o espectador.

Adaptação

Porém, Rebecca Hall não foi tão feliz na adaptação do livro para o roteiro. Em alguns momentos, o filme lembra um teatro filmado. Não pelas imagens e pela montagem, mas pelos diálogos, demasiadamente literários. Isso fica evidente no primeiro encontro entre Irene e Clare, quando conversam no restaurante do hotel e, mais ainda, quando estão no quarto. Logo depois, quando Irene se encontra em casa interagindo com seu marido, essa impressão parece se dissipar. Mas, volta quando Clare a visita em sua casa, deixando evidente que a forma de interpretar de Ruth Negga contribui para essa teatralidade.

Outra questão da adaptação que prejudica o filme é a transferência do tema do racismo para o ciúme de Irene. O racismo provoca nessa protagonista interessantes questionamentos em relação a ela mesma, que também já se fez passar por branca em algumas breves ocasiões para melhor ser vista pela sociedade. Então, revê sua primeira reação de repúdio em relação à amiga. Enquanto isso, a história mostra a bela reconexão de Clare com suas origens, mostrando sua alegria quando pode ser ela mesma. Aliás, o nome da personagem indica uma predisposição por renegar sua cor, e que ela precisa superar.

Contudo, na segunda metade do filme, a trama se concentra no ciúme de Irene por Clare. E, isso derruba essas construções mais instigantes em relação ao racismo.

Assim, Identidade revela o nascimento de uma promissora diretora de cinema, que talvez possa alçar voos mais altos deixando o roteiro sob a responsabilidade de outrem.


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