A revisão deste primeiro retorno de Harrison Ford ao personagem Indiana Jones revela um apanhado de referências embalado em muita correria. Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal se salva com o charme do ator, o retorno de Karen Allen (de longe, a melhor Indy girl) e a trama que mescla fatos ou lendas com a narrativa do filme. Mas é o mais fraco da franquia.
As referências se concentram na dupla criativa Steven Spielberg (o diretor) e George Lucas (um dos autores da estória). Já no prólogo, um carro em alta velocidade com jovens disputa um racha com outro veículo cheio de soldados, ao som de Elvis Presley. Parece até que estamos de volta a Loucuras de Verão (American Graffiti, 1973), de Lucas. Mas nada disso é gratuito. Dessa forma, o roteiro informa que estamos na década de 1950, bem depois das aventuras anteriores de Indiana Jones. A nova época será importante para a trama. Os inimigos agora são os soviéticos, e a Guerra Fria mantém uma dose constante de tensão. Até mesmo com direito a um teste de explosão nuclear numa das melhores cenas.
E por isso, desta vez o herói desta franquia surge envolvido em uma ameaça violenta. É espancado pelos soviéticos, como se fosse uma versão de James Bond. Mas o filme preserva a iconicidade de Indiana Jones, que surge como no primeiro filme. Ou seja, de costas e mostrando sua silhueta na sombra antes de revelar o seu rosto.
Correria e referências
Outras referências de Spielberg/Lucas entram no filme. Tem até mesmo a vilã soviética Irina Spalko (Cate Blanchett) tentando arrancar os segredos da mente de Indy como se fosse o Darth Vader de Star Wars usando a Força. E, desde o começo até o final, paira um clima de mistério alienígena similar ao que vimos em Contatos Imediatos do Terceiro Grau (Close Encounters of the Third Kind, 1977). Aliás, essa mistura de ficção-científica com as linhas de Nazca e a lenda do El Dorado resulta numa história instigante.
Mas, num plano geral, Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal tenta replicar aquele ritmo de montanha-russa do prólogo de Os Caçadores da Arca Perdida (Raiders of the Lost Ark, 1981) nas principais cenas de ação. Assim, engata uma perseguição na floresta como a de O Retorno de Jedi (Return of the Jedi, 1983). Mas aqui longa demais e que só ganha novo impacto quando surgem as formigas gigantes. Porém, incomoda o fato de, desde a primeira fuga no campo do exército americano até a trilha em direção ao El Dorado, tudo se resume a uma grande corrida. E, na verdade, o filme ganha seus melhores momentos quando para, seja para lidar com a relação entre Indiana Jones com Marion Ravenwood (Karen Allen), ou para desvendar como superar algum obstáculo que está repleto de armadilhas (marca essencial das aventuras de Indy).
Por fim, cabe ainda comentar sobre Shia LaBeouf. O ator interpreta Mutt Williams, um rapaz rebelde que é essencial para a história. A produção claramente aposta nele como um sucessor para novas sequências da franquia, o que fica evidente na cena final quando o chapéu de Indy chega aos seus pés. Mas, como acontece nesse trecho, ele acaba não cumprindo a expectativa, nem com esse personagem nem com sua carreira.
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Ficha técnica:
Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal | Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull | 2008 | EUA | 122 min | Direção: Steven Spielberg | Roteiro: David Koepp | Elenco: Harrison Ford, Cate Blanchett, Karen Allen, Shia LaBeouf, Ray Winstone, John Hurt, Jim Broadbent, Igor Zhizhikin, Dimitri Diatchenko.