O receio de ter sua casa invadida e sua família ameaçada é um tema com enorme apelo. Invasão (Breaking In, 2018) explora esse pavor que o diretor Sam Peckinpah levou às telas no violentíssimo Sob o Domínio do Medo (Straw Dogs, 1971), talvez o melhor filme desse subgênero. Este longa de James McTeigue também é violento, mas nem tanto. Porém, incomoda porque a trama exalta a força das mulheres, e com isso, as vítimas são uma mãe seus filhos, uma adolescente e um menino. E, além de perseguidas e espancadas, a menina ainda sofre estupro. As agressões não apresentam detalhes gráficos, mas, até por não existir aquela intenção da farsa de Quentin Tarantino e outros, a brutalidade aqui choca.
Gabrielle Union, a atriz que interpretou a filha do personagem de Martin Lawrence em Os Bad Boys II (2003), vive a protagonista Shaun Russell. Seu pai, com quem rompeu relações, é um milionário agora em julgamento por ter construído fortuna com estelionato. Após ele ser misteriosamente assassinado, Shaun retorna para a mansão em Lake Constance, no Wisconsin, onde viveu na infância, para negociar sua venda. Junto com ela, viajam seus filhos Jasmine (Ajiona Alexus) e Glover (Seth Carr). Mas, logo na noite que chegam, quatro bandidos invadem a casa atrás do cofre que guarda milhões de dólares em espécie. Então, Shaun precisa provar até onde uma mãe pode ir para salvar os seus filhos.
Especialistas em ação
Especialista em filmes de ação, como Sem Escalas (Non-Stop, 2014) e O Passageiro (The Commuter, 2018), ambos estrelados por Liam Neeson, o roteirista Ryan Engle escreveu Invasão a partir da história criada pela produtora Jaime Primak Sullivan. Esta, além de destacar o brio de uma mãe, certamente quis também enfatizar o poder da mulher. Por isso, o enredo deixa o marido na cidade onde moram os Russells, e, quando ele surge na casa, só atrapalha uma situação que Shaun já havia resolvido. E Shaun vence seus opositores, fisicamente mais fortes, com sua astúcia, e garra para nunca desistir. Além disso, a filha mais velha Jasmine toma similar atitude para proteger o seu irmão caçula.
Habilmente, essa história se desenvolve sem que soe absurdo que as vítimas consigam sobrepujar os invasores. Afinal, eles possuem um enorme ponto fraco, que é a desunião entre eles. Os membros da gangue não se conheciam, e se juntaram apenas para esse golpe. E, um deles é altamente perigoso, um verdadeiro psicopata, o que causa irritação no bandido mais jovem. Aliás, vale ressaltar que esses dois personagens soam caricatos demais. O cruel Duncan (Richard Cabral) tem descendência latina, mas sua aparência se assemelha ao do vilão Robbie Rotten (Stefán Karl Stefánsson), da série infantil LazyTown (2002-2014). Já o jovem assaltante Sam (Levi Meaden) faz o alucinado drogado (implicitamente) com visual de Eminem quando estava loiro.
Um pouco acima da média
Por outro lado, notamos falatório demasiado no filme, especialmente em cenas que demandam que as vítimas permaneçam em silêncio para que os invasores não as encontrem. Irritam, porque são desnecessárias. Afinal, as cenas de ação se explicam por si mesmas, e o diretor James McTeigue consegue filmá-las com precisão, mantendo a tensão do público, numa sucessão ininterrupta de eventos. McTeigue já é experiente no gênero, tendo começado com V de Vingança (V for Vendetta, 2005). Antes de Invasão, ele dirigiu Perseguindo Abbott (Survivor, 2015), com Milla Jojovich e Pierce Brosnan. Mas, apesar de movimentado e consistente, Invasão peca por sua previsibilidade, sem ousar uma surpresa desconcertante.
Enfim, Invasão revela o que o diretor James McTeigue consegue fazer: filmes de ação um pouco acima da média. Desta vez, com um tom de violência além do usual, que incomoda por causa das vítimas.
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Ficha técnica:
Invasão | Breaking In | 2018 | Estados Unidos, Japão | 88 min | Direção: James McTeigue | Roteiro: Ryan Engle | Elenco: Gabrielle Union, Billy Burke, Richard Cabral, Ajiona Alexus, Levi Meaden, Seth Carr, Mark Furze, Jason George, Christa Miller, Damien Leake.