Jejum de Amor se baseia na peça The Front Page, escrita por Ben Hecht e Charles MacArthur. A obra já havia sido adaptada para os cinemas em 1931 como A Primeira Página, com direção de Lewis Milestone.
Screwball comedy
Nessa versão de 1940, o diretor Howard Hawks resolve substituir um dos protagonistas masculinos por uma mulher. Com isso, apimenta a receita desta já bem temperada comédia com um pouco de romance. Essa mudança abre a oportunidade para uma das mais importantes características desse gênero de filme, a screwball comedy, que é a presença de uma forte personagem feminina. Em Jejum de Amor, esta figura é representada por Hildy Johnson. Rosalind Russell a encarna impondo sua natural presença física de destaque, aliando inteligência, beleza e confiança.
Outra característica típica da screwball comedy são os diálogos rápidos e eloquentes. O tiroteio verbal muitas vezes sobrepõe uma frase à outra, uma ousadia que desafia os cânones do filme tradicional. Os diálogos brilhantes, e extremamente engraçados, foram escritos por Morrie Ryskind, que está por trás de vários filmes dos Irmãos Marx. Por isso, em muitos momentos, o personagem de Cary Grant em Jejum de Amor, Walter Burns, lembra muito a persona em tela de Grouxo Marx, com falas afinadas, sarcásticas e até ofensivas.
Os diálogos, ainda, servem para contar rapidamente a situação atual de Walter e Hildy.
Na história, Hildy retorna à redação do jornal para contar a Walter, seu ex-marido, que se casará novamente no dia seguinte. A respeito disso, Walter parece não se importar. Mas quer que ela escreva uma última notícia para o jornal, cobrindo a execução de um condenado ao enforcamento sob o ponto de vista humanitário. Porém o prisioneiro escapa e encontra Hildy quando ela está sozinha na sala de imprensa da penitenciária. Espertamente, Hildy vê a oportunidade de conseguir um furo extraordinário para o jornal de Walter. Contudo, sem perceber, está colocando em risco sua nova vida de casada.
Análise
Antes de tudo, o soft focus, comum nos filmes dessa época, contribui para tornar os dois protagonistas figuras especiais, maiores que a vida. Afinal, ambos são manipuladores, e conseguem o que querem através de astúcia e charme, ou pelo poder da imprensa. Um exemplo do primeiro caso é Hildy convencendo o condenado a falar o que ela deseja saber. um exemplo do segundo fica evidente quando ela tira o noivo da cadeia ameaçando escrever sobre a prisão arbitrária.
Além disso, o grande diretor Howard Hawks consegue imprimir um ritmo ágil ao filme. E, não só pelos diálogos, mas também pela edição. Por exemplo, os cortes rápidos mostrando a agitação dos repórteres diante de uma nova notícia. Adicionalmente, pelos enquadramentos que capturam toda a fuzarca em cena, principalmente na parte final. Da mesma forma, Hawks também trabalha com talento a gramática audiovisual. Nesse aspecto, quando deixa claro a dúvida que surge em Hildy sobre que rumo dar a sua vida, na sequência em que ela atende dois telefonemas simultaneamente, um de Walter e outro do seu noivo, e tenta conversar com os dois.
Sob outro aspecto, o título nacional aposta na divulgação do filme como uma comédia romântica. Já o original “His Girl Friday” vai mais além, refere-se a Sexta-Feira, o personagem de “Robinson Crusoe”. Contudo, no livro de 1719 de Daniel Defoe, ele é um homem e um servo, enquanto Hildy é uma mulher e poderosa, no mesmo patamar do seu par masculino.
Por fim, Jejum de Amor é um exemplo de screwball comedy bem sucedida. Além disso, representa uma homenagem ao jornalismo como uma profissão apaixonante.
Ficha técnica:
Jejum de Amor (His Girl Friday, 1940) EUA. 92 min. Dir: Howard Hawks. Rot: Charles Lederer. Elenco: Cary Grant, Rosalind Russell, Ralph Bellamy, Gene Lockhart, Porter Hall, Ernest Truex, Cliff Edwards, Clarance Kolb, Roscoe Karns, Frank Jenks, John Qualen, Helen Mack, Alma Kruger.