Joana a Louca retrata um curto período da vida da rainha de Castela e Leão. O filme inicia-se em 1496, quando ela ruma a Bruxelas para se casar com o rei Felipe de Habsburgo. E, se encerra em 1506, com a morte de Felipe e o confinamento de Joana em um castelo em Tordesilhas, após a considerarem insana.
Segundo o filme, Joana não era louca, mas se comportava impulsivamente. E, como sua paixão pelo rei era muito forte, ela reagiu aos gritos quando descobriu que o marido a traía. Por outro lado, tendo uma personalidade fraca, Felipe se deixou contaminar pelos seus conselheiros que ambicionavam mais poder. Por isso, pouco antes de morrer, o rei assinou a ordem que levou ao enclausuramento perpétuo de Joana.
Para contar didaticamente esse fato histórico, o filme recorre a uma narração presente desde os seus primeiros minutos, e que retorna em outros momentos. O teor sisudo e repleto de informações contrasta com a insensatez do amor passional de Joana, que dedica seus sentimentos a uma pessoa que não os merecia. Contudo, tal narração didática cria uma barreira à empatia do espectador pela protagonista.
Produção
A produção é de primeira, e apresenta uma reconstituição de época primorosa. Ao contrário das produções hollywoodianas que retratam a idade média com um requinte artificial, Joana a Louca busca o naturalismo. No filme, a corte soa com um ambiente de luxo, mas sem conforto. Ou seja, apesar de a rainha possuir várias amas que cuidam delas, os aposentos contêm pouco mobiliário. Como resultado, as pedras das construções se sobressaem e realçam a frieza do local. Nesse sentido, a produção merece elogios por optar por filmar em castelos antigos que ainda existem na Espanha, e que são essenciais para criar essa ambientação natural.
No entanto, no aspecto dramático, Joana a Louca não alcança o potencial emotivo que esses acontecimentos possuem. E isso era até esperado do diretor Vicente Aranda, dada a sua experiência em levar para as telas dramas românticos picantes como Os Amantes (1991) e Paixão Turca (1994). Desta vez, ele recorre a um pouco de nudez, mas falta a sensualidade explosiva que condenou a protagonista.
No elenco, destaca-se a forte atuação de Pilar López de Ayala no papel-título. É uma atriz de talento, que marcou presença em filmes como O Estanho Caso de Angélica (2010), de Manoel de Oliveira, e Medianeras (2011), de Gustavo Taretto. Ao seu lado, o italiano Daniele Liotti, como Felipe, parece em um patamar inferior, com uma interpretação mais voltada para a teledramaturgia.
Anteriormente, dois filmes espanhóis já levaram essa história para as telas: Loucura de Amor (1909) e Delírio de Amor (1948).
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Ficha técnica:
Joana a Louca (Juana La Loca) 2001. Países: Espanha, Itália, Portugal e França. 115 min. Direção: Vicente Aranda. Roteiro: Vicente Aranda, Antonio Larreta. Elenco: Pilar López de Ayala, Daniele Liotti, Rosana Pastor, Giuliano Gemma, Roberto Álvarez, Eloy Arorín, Guillermo Toledo, Susi Sánchez.