Jogos Mortais X (Saw X) representa uma marca surpreendente para uma franquia que explora um nicho muito específico, o torture porn, que desagrada a maioria das pessoas. Afinal, não é qualquer um que suporta ver atrocidades como personagens tendo que infringir dores extremas a si mesmas ou a outras pessoas. Neste décimo exemplar, por exemplo, dois deles precisam decepar seus membros para sobreviver, sendo que outro enfrenta um desafio ainda mais doloroso.
Mas, como acontece com toda franquia com tantas sequências, as ideias se esgotam. É comum que, com isso, os criadores originais se afastem e reste apenas um personagem para manter alguma conexão com o que foi produzido antes. E esse efeito acontece em Jogos Mortais, cujo criador, James Wan, não dirigiu mais nenhum filme da franquia e apenas assinou o roteiro do terceiro, junto com Leigh Whannell. Então, agora quem mantém a relação entre os filmes é o anti-herói John Kramer (Tobin Bell), muitas vezes auxiliado por Amanda (Shawnee Smith), que está em cinco filmes. Para quem não acompanha a franquia, John Kramer é o justiceiro sádico que pune pessoas que não prestam com terríveis jogos de sobrevivência.
A história de Jogos Mortais X se passa entre os eventos do primeiro e do segundo filmes. John Kramer recebe o diagnóstico de câncer terminal no cérebro. Então, para salvar a sua vida, ele contrata um novo tratamento, fora dos hospitais oficiais. Porém, é apenas um golpe, que já levou dinheiro de muitos doentes em situação similar. Agora, ele usa sua inteligência e crueldade para se vingar da mentora do esquema, a Dra. Cecilia Pederson (Synnøve Macody Lund) e mais quatro cúmplices.
Sessões de tortura
Diferente do roteiro superior de James Wan e Leigh Whannell para Jogos Mortais (Saw, 2004), aqui Kramer aplica o seu jogo individualmente, com os demais por testemunha. Assim, cabe a cada um decidir se aceita se infringir dor extrema para ter a chance de viver. Embora sem ideias muito inovadoras, as sequências com as três primeiras vítimas mantêm o mínimo de tensão que a franquia costuma apresentar. No entanto, é frustrante que nesses três casos o resultado seja o mesmo. Ou seja, essas vítimas teriam sofrido menos se não tivessem tentado sobreviver. Parece até uma metáfora para a liberação do suicídio assistido que já existe em alguns países. Faria sentido, mas é improvável que tenha sido essa a intenção.
Depois dessas três sequências de punição, o filme decai de vez. Há uma primeira reviravolta pouco consistente, que deixa de lado a assistente Amanda sem fazer nada além de protestar contra a tortura que sofre seu mentor em sua própria engenhoca (aliás, como a Dra. Cecilia sabe como esse equipamento funciona?). Mas, o pior de tudo é que o filme coloca uma criança sob tortura, passando dos limites do aceitável.
Tudo, enfim, parece desabar, até mesmo a reação exagerada de Amanda quando a terceira vítima é sacrificada. Além disso, o filme ainda frustra o fã de carteirinha da franquia ao reservar para a principal responsável pelo esquema uma punição bem menos dolorosa do que as outras vítimas sofreram. E isso após induzir o público a odiar cada vez mais essa personagem. Pois é, talvez nem esses seguidores saiam satisfeitos com Jogos Mortais X.
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Ficha técnica:
Jogos Mortais X | Saw X | 2023 | 118 min | EUA, México, Canadá | Direção: Kevin Greutert | Roteiro: Josh Stolberg, Pete Goldfinger | Elenco: Tobin Bell, Shawnee Smith, Synnøve Macody Lund, Steven Brand, Renata Vaca, Joshua Okamoto, Paulette Hernandez.
Distribuição: Paris Filmes.
Trailer aqui.