Jojo Rabbit tem a coragem de fazer graça com um tema muito sério, o nazismo. Para isso, o diretor neozelandês Taika Waititi usa o mesmo tipo de humor ácido trabalhado por Robert Altman em seu escrachado M.A.S.H. (1970), comédia corrosiva sobre a guerra.
Durante o último ano da Segunda Guerra Mundial, na Alemanha, um garoto de doze anos idolatra o nazismo e Hitler, tanto que seu amigo imaginário é o próprio Führer. Ele sempre veste o uniforme nazista, apesar de ter sido rebaixado em sua posição no grupo militar para crianças, e sua casa é decorada com motivos do partido. Seu fanatismo entra em desafio quando ele descobre uma menina judia escondida em sua casa com autorização da sua mãe.
O menino Jojo ganha o apelido de Rabbit porque ele não tem coragem de estrangular um coelho no acampamento militar para crianças. Fica claro que ele não tem a menor aptidão para o ramo, é ingênuo, medroso e todo atrapalhado. A verdade é que Jojo é um bobalhão. Elsa, a garota judia, dá um baile nele e o engana facilmente.
Frenético
Jojo Rabbit começa hilário e num ritmo frenético, com uma colagem de imagens do povo alemão da época vibrando nas ruas com as demonstrações nazistas enquanto ouvimos os Beatles tocando “I Wanna Hold Your Hand” com letra em alemão. O fanatismo dos alemães ganha comparação com a histeria da garotada perante o fenômeno musical dos reis do iê iê iê. Essa crítica é o cerne do filme.
Após essa introdução, continuamos rindo muito com o acampamento nazista para crianças, que leva para o ambiente dos acampamentos de férias o treinamento militar liderado por um comandante afetado e seu companheiro, ambos escondendo sua óbvia homossexualidade. É nesse ambiente que se apresenta Jojo, todo perdido e assustado. E então entra a figura do amigo imaginário dele, um Hitler todo caricato, vivido pelo próprio Taika Waititi, uma caracterização surpreendente que arranca gargalhadas.
O humor se sustenta conforme conhecemos outros personagens nazistas cômicos. As únicas pessoas sérias do filme são a mãe de Jojo, interpretada por Scarlett Johansson, que colabora com os judeus, e a adolescente Elsa (Thomasin McKenzie), a inteligente judia que se refugia na casa de Jojo. Não é coincidência que só rimos dos alemães nazistas.
Personagens
O próprio Jojo foge do padrão de protagonistas no cinema. Não sentimos empatia por ele, porque ele não é uma criança adorável. Cego pelo fanatismo, é uma figura ridícula e que só conseguirá a redenção quando surge o amor por Elsa e os Aliados invadem sua cidade para acabar com o nazismo.
Quando já não há mais personagens novos para conhecermos, percebemos que o filme Jojo Rabbit faz graça com base em uma piada única, que é o deboche do povo alemão cegado pelo nazismo, representado pela figura do garoto. É um humor inteligente, mas que arranca gargalhadas em poucos momentos. Pelo início empolgante, parecia ser mais engraçado.
Enfim, Jojo Rabbit é uma comédia original, provocativa e corajosa. Coloca de novo em questão a fraqueza que pode levar todo um povo a abraçar uma ideologia tão absurda como nazismo e, por isso, surge num momento importante diante da ameaça do surgimento de novas ditaduras no mundo.
Como cinema, queríamos ver mais momentos como aquele onde vemos borboletas no estômago de Jojo, ilustrando o nascimento de seu amor por Elsa.
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Ficha técnica:
Jojo Rabbit (Jojo Rabbit, 2019) República Tcheca/Nova Zelândia/EUA. 108 min. Dir/Rot: Taika Waititi. Elenco: Roman Griffin Davis, Thomasin McKenzie, Scarlett Johansson, Taika Waititi, Sam Rockwell, Rebel Wilson, Alfie Allen, Stephan Merchant, Archie Yates, Luke Brandon Field, Sam Haygarth.
Disney Studios