O filme “Jonas” é um thriller romântico rodado na Vila Madalena em São Paulo, na época de carnaval. Conta a história de Jonas, um jovem de uns 18 anos, filho de uma empregada doméstica que se casou com um mecânico que vive bêbado. Do novo casamento da mãe, Jonas ganhou um irmão, bem mais novo. Eventualmente, uma paixão platônica do rapaz por Branca, filha dos patrões da mãe, leva-o a uma tragédia. Ao testemunhar o caso da garota com Dandão, um homem mais velho, traficante de drogas, envolve-se numa briga com ele e o mata. Para piorar, no desespero, sequestra Branca e a esconde dentro de um carro alegórico em forma de baleia.
Roteiro
Essa premissa interessante não resultou num roteiro à altura, porque não consegue desenvolver os acontecimentos posteriores ao sequestro. Não entendemos as motivações para Jonas insistir no ato criminoso. Se fosse para se livrar da suspeita do assassinato, Jonas teria que matar Branca também, pois ela estava no local e presenciou tudo, ou então conquistar sua confiança para ambos encobertarem o crime, o que seria justificável, já que para ela seria melhor que ninguém soubesse de seu caso com o traficante.
Porém, Jonas não segue por nenhuma dessas vias, mesmo depois de conquistar Branca. Inexplicavelmente, chega a pedir dinheiro para o resgate de sua vítima. Tudo acaba desaguando em uma situação ruim para Jonas que é forçada demais. E o final aberto prejudica ainda mais a trama, como se os autores tivessem evitado defini-lo porque não resolveram os conflitos da história.
Direção
Mesmo assim, o filme “Jonas” prende o interesse pela direção da estreante Lô Politi. Ironicamente, ela também é coautora do roteiro. Como diretora, há um frescor em seu estilo que é próprio de quem está começando e quer mostrar seu talento, e concretizar suas muitas ideias. De fato, ela foge da solução óbvia nas captações das imagens. Nesse sentido, a câmera está agitada, algumas vezes na mão, em outras, se movimenta em travellings.
Há muitas variações de enquadramentos, closes muito próximos, câmeras altas e baixas, enfim, planos curtos que dão ritmo ágil ao filme. Confira, por exemplo, Branca entre barras, enquanto conversa com Jander, já sem as amarras dentro da baleia. E as interpretações dos atores engrandecem o filme, desde os jovens Jesuíta Barbosa e Laura Neiva, o menino Luam Marques aos experientes Chris Couto e Tomas Rezende.
Autenticidade
O vigor da direção de Lô Politi poderia ter influenciado também seu roteiro. A autenticidade da observação social desse microcosmo da classe média e baixa paulistana que orbita o carnaval está latente, e leva para as telas o perigo que surge quando as diferentes classes se relacionam por causa de um mal comum: as drogas. Jonas ganha um dinheiro por fora como entregador do traficante Dandão que, por sinal, fornece para Branca e seu namorado.
Por fim, toda essa teia cresce a partir da escola de samba Pérola Negra, que os três frequentam, um retrato que ainda nem todos conhecem. E que, na verdade, poderia ter gerado um filme com maior realismo, talvez um determinismo que acabasse de vez com as esperanças do jovem Jonas. Porém, essa pegada mais cruel não entrou nesse filme.
Ficha técnica:
Jonas (Jonas, 2015) Brasil, 90 min. Dir: Lô Politi. Rot: Lô Politi, Élcio Verçosa. Elenco: Jesuíta Barbosa, Laura Neiva, Chris Couto, Luam Marques, Criolo, Paulo Américo, Ariclenes Barroso, Roberto Birindelli, João Fábio Cabral, Karol Conka, Ana Cecília Costa, Luciana Costa, Tomas Rezende.
Assista: trailer do filme Jonas