Depois de dois filmes sombrios, Anna: O Perigo Tem Nome (2019) e Dogman (2023), Luc Besson surpreende com um filme romântico. June e John, na verdade, merece a classificação inusitada de romance maluco, num tom otimista que nem parece fazer parte de sua filmografia.
Mas, custou para o filme me agradar (e talvez nunca chegue a agradar a maioria dos espectadores). Enquanto relata os problemas do protagonista John (Luke Stanton Eddy), preso a uma vida sem graça, em uma sucessão de eventos ruins que parecem a versão diurna da Depois de Horas (After Hours, 1985), fiquei com a impressão de estar diante de um cinema obsoleto. Sem muita criatividade, Besson usa planos curtos para as atividades rotineiras de John antes de sair de casa; depois enfileira os seus acontecimentos desafortunados em cenas mais longas. Como resultado dos infortúnios, o personagem encerra o dia sem carro, fato essencial para a trama.
O filme melhora no dia seguinte, pois o diretor acelera algumas rotinas com planos curtíssimos. Em seguida, depois de perder seus documentos no táxi e passar horas na prisão, John vive o seu meet cute, ou seja, encontra o seu grande amor. O rápido contato visual, através da janela do metrô, é suficiente para despertar a fagulha da chama da vida quase apagada em John. O antes desanimado rapaz, então, fica até de madrugada pesquisando as redes sociais para encontrar essa tal June (Matilda Price, a perfeita encarnação dessa personagem). No dia seguinte, ela aparece na baia do trabalho de John. Fantasioso demais? Nem tanto, pois June explica como conseguiu hackear o computador de John para saber onde ele trabalha.
Amor à vida
Além disso, percebo que o começo modorrento, e que me pareceu antiquado, foi uma artimanha de Luc Besson para contrastar com a nova perspectiva de John após conhecer June. Dela surge uma maluquice inconsequente que inclui assalto a mão armada para curtir a vida ao máximo. Isso também tem um motivo, pois a June só lhe restam 76 horas de vida.
O espírito livre de June está intimamente ligado à sua conexão com a natureza. No lugar da moral e das leis dos homens, ela prefere as leis naturais. Daí vem o episódio da não planejada coerção ao milionário que expõe animais empalhados em sua casa. E também a analogia com caranguejos que June inventa para contar que está com câncer em estágio terminal.
Nem tudo me agrada em June e John. Mostrar na tela os balões e os aviões enquanto June os menciona, ou o piano que literalmente cai do céu depois que ela fala sobre isso, tudo isso parece tolo demais. Mas, June ama a vida com tanta intensidade, numa valorização imensurável do bem que logo será confiscado dela, que ela contagia não só John, mas também os espectadores. Por isso, a fantasia cabe no filme. Porque esse amor aloucado parece tolo, mas é lindo.
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Ficha técnica:
June e John | June and John | 2025 | França | Direção: Luc Besson | Roteiro: Luc Besson | Elenco: Matilda Price, Luke Stanton Eddy, Ryan Shoos, Dean Testerman, Sherry Mattson, Honey Lauren.
Distribuição: Diamond Films.