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Kapò: Uma História do Holocausto (filme)
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Kapò: Uma História do Holocausto

Avaliação:
7/10

7/10

Crítica | Ficha técnica

Em sua maior parte, Kapò: Uma História do Holocausto traz um retrato autêntico de uma colaboracionista em um campo nazista. No entanto, o filme ficou marcado por um movimento de câmera que trai esse naturalismo.

O diretor de Kapò: Uma História do Holocausto é o italiano Gillo Pontecorvo. Sua filmografia, que abarca o período entre 1953 e 2003, alternou entre produções de ficção e documentário. E, mesmo nos filmes ficcionais, inseriu características documentais, geralmente contando fatos históricos com fundo político. Por exemplo, em A Batalha de Argel (1966), Queimada (1969), e no longa-metragem objeto dessa crítica.

A história

A trama acompanha a trajetória de uma “Kapò”, uma prisioneira num campo de concentração que se torna uma espécie de guarda local para os nazistas. No início, a menina judia Edith, de 14 anos, é levada de Paris para um desses campos, junto com seus pais. Durante uma improvável fuga, a prisioneira Sofia salva sua vida, conduzindo-a para um médico que lhe dá uma nova identidade. Assim, ela passa a ser Nicole, marcada com o triângulo negro reservado para os ladrões.

Junto com Sofia e as demais prisioneiras, a agora Nicole acaba em outro campo. Lá, precisa trabalhar pesado e enfrenta a fome, o frio e eventuais castigos.

Logo, acompanhamos o maior trunfo de Kapò: Uma História do Holocausto, que é o processo de endurecimento de Nicole. Sofrendo até o limite com as condições do campo, a franzina e inexperiente menina vai, aos poucos, abandonando sua dignidade e sua sensibilidade. Nesse sentido, apesar de ainda ser virgem, aceita servir sexualmente aos oficiais alemães, em troca de comida. Ademais, a sua frieza com os demais seres humanos chega ao limite de ela pegar as meias do cadáver de Sofia, a colega que salvou sua vida.

Finalmente, Nicole se torna uma Kapò, tão severa quanto as demais guardas do campo. Troca, assim, sua humanidade por sua sobrevivência. Em certo momento, ela justifica sua opção para a prisioneira de alma boa Terese, interpretada por Emmanuelle Riva, atriz de Hiroshima, Mon Amour (1959). É ela quem protagoniza o trecho do filme que causou discórdia a partir da feroz crítica que Jacques Rivette publicou na Cahiers du Cinéma, em junho de 1961.

O travelling da discórdia

Por volta de 1 hora e 7 minutos de filme, a personagem de Emmanuelle Riva desiste de sua vida. Principalmente, diante da transformação de Nicole, de menina indefesa a colaboracionista impiedosa. Então, sua Terese se joga na cerca elétrica e se mata.

Nessa cena, o diretor Gillo Pontecorvo optou por mover a câmera em um breve travelling para enquadrar a personagem na cerca, com as mãos para o alto.  Segundo Rivette, esta movimentação da câmera, com fins estéticos, é imoral. Para o crítico, Pontecorvo foi desprezível ao usar esse recurso num filme com esse tema.

Na verdade, o filme possui outros pontos que incomodam, pois abafam o retrato cruel dos horrores do campo nazista. Um deles é a trilha sonora, em especial as estrofes com teclados no leit motif. Por exemplo, no epílogo com o soldado russo Sascha caminhando em meio aos mortos, essa música causa muita estranheza.

O outro ponto, até mais grave, é a redenção de Nicole motivada por seu amor ao prisioneiro russo Sascha. O romance parece forçado, pois a agora Kapò coloca em risco a sua sobrevivência, que ela tanto valoriza, por um homem que acaba de conhecer. De fato, a sua regeneração engrandece a trama. Porém, a motivação poderia ser outra. Por exemplo, o suicídio da prisioneira interpretada por Emmanuelle Riva. Tendo sempre sido boa com Nicole, sua morte justificaria uma epifania.

Susan Strasberg

A atriz estadunidense Susan Strasberg despontara alguns anos antes, em Férias de Amor (1955). Em Kapò: Uma História do Holocausto, aos 22 anos, sua atuação como a inexperiente Edith/Nicole é adequada. Na verdade, a dublagem em italiano beneficia sua interpretação, pois sua carreira posterior evidenciaria seu talento limitado.

Após esse longa, Strasberg faria apenas um filme importante, As Aventuras de um Jovem (1962), de Martin Ritt, e seguiria sua carreira até 1996 em filmes menores. Até falecer em 1999, com 60 anos. Aliás, recentemente, a atriz ressurgiu na Netflix, na reconstituição de O Outro Lado do Vento (2018), de Orson Welles.

Exposição dos horrores do nazismo

Apesar de tudo, Kapò: Uma História do Holocausto é um filme muito forte, que consegue expor os horrores dos campos nazistas e ainda a degradação de sua protagonista. Além disso, apresenta um dilema moral universal, que atormenta Sascha em sua dúvida se a salvação de centenas de vidas justifica o sacrifício de uma.

Enfim, polêmicas francesas à parte, o filme recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Não ganhou a estatueta, mas continua sendo lembrado como um impactante retrato pacifista contra o holocausto.

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Ficha técnica:

Kapò: Uma História do Holocausto (Kapò) 1960. Países: Itália, França, Iugoslávia. 117 min. Direção: Gillo Pontecorvo. Roteiro: Franco Solinas, Gillo Pontecorvo. Elenco: Susan Strasberg, Laurent Terzieff, Emmanuelle Riva, Didi Perego, Gianni Garko, Annabela Besi.

Onde assistir:
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