Key Exchange não chegou aos cinemas brasileiros, mas ficou disponível em VHS. Na época, peguei o filme numa locadora de vídeos, e há uns dez anos adquiri uma cópia em DVD. Mas só o revi agora. Percebo que a revisão cairia melhor duas décadas atrás, quando estava na idade dos personagens principais. Acabei com uma impressão vinda de quem estava no fim da adolescência e agora de quem já está nos cinquentas. De qualquer forma, é um filme que se manteve vívido na minha memória, apesar de estar longe de ser uma maravilha (tanto o filme como minha memória).
Um dos motivos principais é a direção, correta, mas bem burocrática. Não surpreende que seja assim, pois o diretor Barnet Kellman fez apenas mais dois longas, mais fracos que esse, e se dedicou majoritariamente à direção de séries televisivas. Nesta produção para o cinema, Kellman deve ter gostado da oportunidade de ser mais ousado, e isso explica as cenas de sexo que levaram a uma classificação “R” (restrito) para o filme. Na verdade, injustificável, pois aqui a nudez se restringe aos seios.
No entanto, se o filme conseguiu um lugar nas minhas lembranças significa que algo de bom ele tem. E a revisão deixa claro que a sua dramaturgia possui força. Baseado na peça teatral de Kevin Wade, a obra expõe com autenticidade um momento de amadurecimento menos retratado no cinema, aquele dos que já são adultos e estão perto dos trinta anos. Esse recorte acabaria na TV na série Friends (1994-2004), com sucesso absoluto, provando o quanto esse filão era pouco explorado.
O foco aqui se concentra na crise pessoal. Os protagonistas possuem trabalhos bem distintos, mas estão com uma situação tranquila.
Personagens principais
A outra força de Key Exchange se encontra nos personagens e seus intérpretes. Não só os protagonistas como também os papéis secundários e até de apoio.
São três os protagonistas.
O advogado Michael (Daniel Stern) acaba de se casar com uma dançarina (April, interpretada por Nancy Mette, que pouco aparece no filme). Seu deslumbramento com seu novo estado civil logo cai por terra, porque no quarto mês de casamento a esposa sai de casa para viajar com o colega do trabalho por quem se apaixonou. Mesmo assim, ele quer se manter fiel pois acredita no retorno dela.
Michael faz amizade com o escritor Philip (Ben Masters), que é o seu oposto. O único ponto em comum entre eles é a paixão por praticar ciclismo de velocidade. Philip é um mulherengo e, por isso, mantém um relacionamento aberto com sua namorada Lisa (Brooke Adams), produtora assistente de uma rede de televisão. Mas a relação desse casal entra em crise quando ela admite que prefere um comprometimento mais firme. Tal briga se inicia quando Philip pede que Lisa não fique com a chave do apartamento dele, ato que significa sua vontade de se manter independente. Daí vem o título do filme.
O cerne da trama se concentra no amadurecimento de Michael e Philip. O interessante é que esse processo implica em dois direcionamentos opostos. Michael precisa superar o fracasso de seu casamento idealizado e seguir em frente. E Philip deve compreender que sair com várias mulheres não satisfaz suas necessidades afetivas.
Personagens secundários
Aí entram os personagens secundários para mover esse enredo.
Assim, surge Carabello (Danny Aiello), detetive particular que permite que Philip acompanhe seu trabalho como pesquisa para seu novo livro. Ele serve de ponte para que Philip se engrace com uma garota de programa (Kerry Armstrong) e deixe de comparecer a um jantar importante com Lisa e o pai dela.
Partindo para o terço final do filme, os dois amigos se veem solteiros e resolvem ir para um bar para conhecer mulheres para passar uma noite. Nesse ponto, Philip sai com a adorável Amy (Terri Garber), e percebe que transar com ela (ou outra mulher) não compensará a falta que sente de Lisa. Já Michael vai para seu apartamento em companhia da atrevida Marcy (Sandra Beall). As falas dessa personagem, que é uma cineasta, são marcantes: “Do you wanna take a look at my shorts?” (“Você quer ver os meus curtas?”, duplo sentido para a vestimenta), “This is so cinematic!” (“Isso parece cinema!”, quando a esposa de Michael bate à porta). Além disso, essa sequência termina numa bem sacada elipse, mostrando Michael satisfazendo seu fetiche por calcinhas.
A cena final, porém, é bobinha. Típico de comédia americana, traz Philip correndo de bicicleta pelas ruas de Nova York para impedir que Lisa parta para Los Angeles com o chefe dela (Tony Roberts). E Michael e April felizes da vida, já reconciliados. No lugar desse desfecho alegre, que soa totalmente superficial, caberia uma conversa sincera entre os casais, agora compostos por homens que amadureceram nesse processo. Key Exchange, de fato, termina deixando uma má impressão. Mas tinha bom potencial.
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Ficha técnica:
Key Exchange | 1985 | 97 min | EUA | Direção: Barnet Kellman | Roteiro: Paul Kurta, Kevin Scott | Elenco: Brooke Adams, Ben Masters, Daniel Stern, Danny Aiello, Tony Roberts, Seth Allen, Nancy Mette, Kerry Armstrong, Sandra Beall, Terri Garber, Annie Golden, Deborah Offner.