Essencialmente, o filme La Sapienza transmite a sabedoria do título através de diálogos filmados com a intenção de enfatizar a semântica do que é dito.
Ozu
O diretor e roteirista novaiorquino Eugène Green parece ter se inspirado no cineasta Yasujiro Ozu ao planejar os enquadramentos de seu longa La Sapienza. Nesse sentido, as conversas entre os personagens fogem do cinema clássico, pois não buscam o raccord dos olhares que tornam fluídos os cortes entre planos e contraplanos.
Tal qual nos filmes de Ozu, os personagens falam diretamente para a câmera, desviando sutilmente o olhar. E esse recurso é marcante em La Sapienza, pois se trata de um filme verborrágico com falas complexas, transitando entre a arquitetura e a psicologia, profissões dos protagonistas, e o existencialismo. Eventualmente, em raros trechos, uma das personagens principais lança olhares para a câmera, sem desvio, endereçando sua mensagem ao espectador.
Análise
Além disso, no intuito de tornar cada frase impactante, e assim captar a total atenção do público para cada termo, a montagem também contribui. Assim, grande parte das cenas de diálogos é editada com cortes que alternam o plano sempre para o personagem que está falando. Até mesmo quando a conversa é rápida, o que gera uma montagem deliberadamente desconfortável.
Aliás, o desconforto também se faz presente nos trechos em que o personagem do arquiteto Alexandre Schmidt conversa sem olhar para seu interlocutor. Na verdade, é um retrato da sua frieza em relação às pessoas, que reflete também na relação do casal.
De fato, Alexandre se interessa mais pelas obras do arquiteto barroco Francesco Borromini, motivo de sua viagem pela Itália com a esposa Aliénor. Com esse intuito, eles se hospedam em Stresa, onde conhecem os jovens irmãos Goffredo e Lavinia.
Em seguida, Alexandre parte para Turim e outras cidades para observar as obras de Borromini, em companhia de Aliénor, aspirante a arquiteto. Enquanto isso, Aliénor permanece em Stresa, onde visita constantemente Lavinia, que se recupera de um desmaio por fraqueza. Durante essa momentânea separação, o casal reavalia o amor que parece perdido.
Definitivamente, La Sapienza agrada a quem procura um roteiro com texto bem escrito, onde as próprias imagens conduzem para o foco nas palavras. Eventualmente, o personagem principal descobre que todo o conhecimento que possui sobre arquitetura não vale mais que o sentimento do amor. Mas, ainda assim, o espectador interessado em mergulhar nas obras do arquiteto Borromini encontrará motivo para regozijo.
Ficha técnica:
La Sapienza (2014) França/Itália. 101 min. Dir/Rot: Eugène Green. Elenco: Fabrizio Rongione, Christelle Prot, Ludovico Succio, Arianna Nastro, Hervé Compagne, Sabine Ponte, Irene Fittable.
Confira aqui o trailer original.