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Lamb (filme)
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Lamb

Avaliação:
7.5/10

7.5/10

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Crítica | Ficha técnica

Em sua estreia em longa-metragem, o diretor islandês Valdimar Jóhannsson acerta em suas escolhas ao contar uma história que possui características de contos folclóricos. Com qualquer deslize, Lamb poderia descambar para o ridículo, por causa de seus elementos fantásticos e sua mensagem. Mas, Jóhannsson evita isso mantendo um tom sóbrio durante todo o filme.

O cenário contribui para esse tom, pois a trama se desenrola em uma fazenda isolada nas montanhas de neve da Islândia. Em meio a névoas e geleiras, o casal Maria (Noomi Rapace) e Ingvar (Hilmir Snær Guðnason) mantém sozinho uma criação de ovelhas. A solidão se acentua porque os dois pouco se comunicam verbalmente. De fato, no momento em que eles decidem adotar uma ovelha recém-nascida com características especiais, o acordo se sela através de olhares.

O diretor Jóhannsson segura a revelação do que esse recém-nascido tem de especial até o momento que ele considera ideal. E, realmente, a cena impacta, e deixa o espectador ainda mais intrigado, e, por outro lado, talvez confortado por sugerir que o ato, por isso, é justificado. Enfim, respeitando o cuidado do cineasta, avisamos que o presente texto contém spoilers a partir deste ponto.

Análise com spoilers

Maria e Ingvar decidem que adotarão a criatura ao verem que seu corpo é humano, apesar do rosto de ovelha. Assim, tiram-na da mãe e colocam-na dentro de casa em um berço. Dão-lhe o nome de Ada, que entendemos que é o mesmo da filha do casal que morreu, cujo túmulo Maria visita em uma cena do filme. Logo, criam a nova Ada com muito amor, como se fossem a filha deles. Porém, a ovelha mãe não aceita que tenham roubado a sua cria, e reclama constantemente berrando à janela da casa. Maria, então, acaba com esse problema matando a mãe natural de Ada.

Um novo personagem surge na história, Pétur (Björn Hlynur Haraldsson), irmão de Ingvar. Há muito tempo eles não se viam, e ele se hospeda na casa durante uns dias. Podemos considerar que Pétur possui duas funções na trama. Uma é de ser a ponte para explicações verbais do que pensam Maria e Ingvar, pois o casal pouco conversa entre si sobre Ada. Essa intenção do roteiro parece clara porque Pétur questiona a decisão de eles terem adotado a criatura. A outra função reflete a essência do enredo, pois Pétur tenta seduzir a cunhada, ou seja, ele tenta pegar algo que não lhe pertence, como fizeram Maria e Ingvar ao tomarem a bebê da ovelha.

O custo da felicidade

Em certo momento, Pétur questiona Ingvar e este justifica o ato do casal com uma palavra: “Felicidade”. Essa resposta nos conduz ao contraditório. “Felicidade para quem? Felicidade a custa de quem?”. Afinal, a própria Ada percebe que aquele não é seu lugar, e o filme revela isso em dois momentos em que ela se olha no reflexo do lago e num espelho da casa. Essa dificuldade de se inserir nessa família e a objeção de Pétur podem levar o espectador a suspeitar de que o filme fala sobre adoção, ou sobre inclusão social de alguém que possa ser considerado diferente. Porém, a conclusão deixa evidente que o tema é outro, e que se conecta de maneira mais universal com uma fábula.

Afinal, Maria e Ingvar aprenderão que, ao adotarem Ada, se apropriaram de algo que não lhes era de direito. E, isso se estende à relação do ser humano com a natureza, desde os animais que ele cria para fins comerciais, ou mesmo quando leva um filhote para ser seu pet, até os recursos minerais que extrai da Terra.

Enfim, essa mensagem ecológica, contada com a materialização de um ser com cabeça de ovelha e corpo humano, poderia se tornar um filme com risco de ser ridicularizado. Porém, o diretor de Lamb foi habilidoso o suficiente para adaptar esse roteiro em um ambiente isolado, silencioso, e com uma trilha sonora sinistra ao fundo. A quase ausência de comunicação entre o casal protagonista e o momento certo para as revelações físicas das criaturas, também, são acertos que merecem ser valorizados. Dessa forma, o cineasta restringe a percepção do público, não lhe permitindo que encare esse conto com desdém. O assunto é sério e Valdimar Jóhannsson garante que assim ele seja apreciado.


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