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Lincoln (filme)
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Lincoln

Avaliação:
7/10

7/10

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Crítica | Ficha técnica

Lincoln é uma grande produção dirigida por Steven Spielberg que retrata os últimos anos da vida do presidente dos Estados Unidos Abraham Lincoln. O tema central, resolvido em janeiro de 1865, é a votação da 13ª Emenda Constitucional, que abolia a escravidão. Spielberg, assim, revisita a questão racial já abordada antes em A Cor Púrpura (1985) e Amistad (1997).

Outro assunto tratado, e o que permite colocar mais drama na estória, é a Guerra Civil, que vitimou 600.000 pessoas. O conflito era motivado pela divergência entre os onze estados do sul, chamados de confederados, que queriam manter a escravatura, e o restante da União que preferia a abolição.

Como esses tópicos não são tão familiares ao público dos outros países, Lincoln começa com uma explicação didática, com legendas e mapa inclusive. O Senado americano havia aprovado a 13ª Emenda em abril de 1864, ano em que Lincoln foi reeleito para seu segundo mandato. O filme conta então como o presidente articula para conseguir os votos necessários para a aprovação final da emenda, agora pela Câmara dos Representantes.

O partido de Lincoln, o Republicano, é contra a abolição da escravatura. Por isso, ele tenta convencê-los a votar a favor da emenda para assim acabar com a Guerra Civil. Ao mesmo tempo, pede a aprovação também dos democratas que querem a abolição. Lincoln ainda argumenta que o mundo todo, principalmente a Europa, espera que os Estados Unidos extingam o trabalho escravo.

Longo drama político

Esse drama político, apesar de sua grandiosa importância histórica frente aos princípios universais, desafia Spielberg a manter a atenção do público durante as duas horas e meia de duração de Lincoln. Ainda mais porque o filme possui poucos cortes, planos longos e muitos diálogos, características que até espelham como era o presidente, que adorava contar estórias e não agia impulsivamente.

Então Spielberg aposta na capacidade de fazer o público criar empatia com Lincoln. Para isso, ao invés de criar um personagem maior que a vida, Spielberg o constrói como uma pessoa acessível (tal qual era na realidade), com muitos conflitos pessoais. Ele não se dava bem com o filho mais velho e ainda enfrentava a angústia da esposa pela perda de um outro filho pequeno.

Mas, não espere muitas cenas de ação. A Guerra Civil aparece na tela apenas no começo do filme, em uma batalha sangrenta que de leve lembra a incrível primeira parte de O Resgate do Soldado Ryan (1998). A guerra continua na estória até o fim, sem novas batalhas, apenas como um lembrete sombrio da urgência em votar a 13ª emenda. Lincoln, no final, precisará enfrentar os confederados para por um término na guerra, mas isso ficará fora da tela.

Público fora dos EUA

E, portanto, Lincoln, principalmente para o público que não é dos EUA, pode ser cansativo. Além do ritmo lento, o filme se passa majoritariamente em ambientes interiores, com fotografia escura, onde predominam os tons marrons. Assim, essa iluminação baixa com cores opacas convida o sono de quem está assistindo. Mas, ao mesmo tempo, cria planos belíssimos que muitas vezes lembram um quadro da época – em especial, a cena da votação na Câmara.

O tom sóbrio do filme é embalado em uma reconstituição de época extraordinária. Aliás, o cenário foi premiado com um merecido Oscar, com uma criação detalhada em cenas de estúdio e em locações.

Outro Oscar conquistado por Lincoln foi para a atuação de Daniel Day-Lewis. O ator inglês simplesmente incorpora Abraham Lincoln, não só pela maquiagem e figurino, mas principalmente pela postura e entonação de voz. O público esquece de Lewis e enxerga apenas o presidente na tela.

Tommy Lee Jones e Sally Fields também foram indicados ao Oscar, no caso deles de coadjuvantes. Jones interpreta muito bem o líder dos democratas, o sisudo Tad Stevens, um personagem importante que guarda uma surpresa para o final do filme. E Fields como Mary, esposa de Abraham Lincoln, encara um papel dificílimo, com cenas de forte emoção. Mas, um pouco histriônica, Sally Fields exagera na sua composição.

Sobriedade

Já Spielberg, em respeito à sobriedade do tema do filme, procura movimentar menos a câmera e evita os planos que manipulam a emoção do público. Mesmo assim, cria alguns momentos de destaque, como quando monta a transição entre uma sofrida Mary com Lincoln atravessando a tela para então aparecer a imagem de uma ópera sendo apresentada no palco, pontuando como a Srª Lincoln era dramática.

Contudo, a genialidade de Spielberg aparece na forma como ele cria a tensão na votação da 13ª emenda na Câmara. Por ser um fato histórico, o público já sabe que o ato jurídico será aprovado. Então o diretor trabalha o “como será aprovado”. Na votação, ele se concentra em alguns dos representantes, aqueles que vimos antes no filme sendo convencidos por Lincoln e seus aliados a votarem a favor da aprovação. Dessa forma, o espectador fica ansioso em saber se o trabalho de persuasão surtiu efeito.

Com isso, Lincoln é um ótimo filme, mas não é fácil de assisti-lo, principalmente se você não é dos Estados Unidos. Mas, vale a pena o esforço.

 

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