Comédia, terror e romance entram em conflito em Lisa Frankenstein. O filme é direcionado estritamente ao público adolescente capaz de se divertir com piadas bobinhas e de se emocionar com um romance improvável (e previsível), e que não se abala com a violência brutal.
Contudo, o maior charme deste filme não tem apelo para essa faixa etária. Estamos falando da nostalgia dos anos 1980. A estória se passa em 1989, ano em que a diretora Zelda Williams nasceu – e tudo leva a crer que a concepção do filme vem de Diablo Cody (aquela que recebeu um Oscar por Juno [2007]) Afinal, Zelda Williams não tem memórias sobre a época, mas o filme transpira o visual, a música e o tom que a marcaram. Assim, em meio a cores muito vivas, o pop rock cadencia o rápido ritmo do longa. Emblematicamente, a protagonista se veste como Madonna para ilustrar que se tornou uma moça mais ousada. E uma máquina de bronzeamento artificial fornece a descarga elétrica necessária para reviver os mortos.
Em reconstrução
Ela é Lisa (Kathryn Newton), que perdeu a mãe, e seu pai se casou novamente seis meses depois. Nessa nova família, a meia-irmã que é cheerleader a trata muito bem. O mesmo não se pode dizer da madrasta (Carla Gugino), que a ataca direta e abertamente. Para se acalmar, Lisa costuma se isolar num antigo cemitério abandonado para solteirões. Seu ponto preferido é o jazigo de um rapaz. Eis que, certo dia, um estranho fenômeno traz esse jovem morto há décadas para o mundo dos vivos.
Ele procura Lisa e ela se propõe a ajudá-lo. Primeiro, esconde-o no closet de seu quarto, como acontece em E.T. – O Extraterrestre (1982). Depois, auxilia-o a repor algumas partes de seu corpo que estão putrificadas, começando pela orelha. Assim, as mortes costumam acontecer.
Lisa possui uma habilidade particular para reformar o seu Frankenstein – detalhe que segue as boas práticas de um roteirista. Ou seja, como trabalha costurando roupas, ela é capaz de grudar os novos membros no corpo de seu amigo do além, manuseando uma linha e uma agulha. Mas, no todo, Lisa é uma personagem inconsistente. Do nada, assume sua porção má, como cúmplice e parceira dos assassinatos. E o filme não prepara o terreno para essa reviravolta, esvaziando a empatia até então construída pela aparentemente boa garota.
Os elementos nojentos do cadáver revivido incluem minhocas, vermes e insetos que saem de dentro dele. A violência não é tão explícita, mas deixa evidente a mutilação de vários órgãos, culminando com o novo pênis que esse Frankenstein precisa para concretizar o romance com sua salvadora.
Resta, assim, a diversão proveniente da caracterização oitentista, e das inusitadas animações da abertura e do final de Lisa Frankenstein. Mas isso não empolga o seu público-alvo.
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Ficha técnica:
Lisa Frankenstein | 2024 | 101 min | EUA | Direção: Zelda Williams | Roteiro: Diablo Cody | Elenco: Kathryn Newton, Liza Soberano, Cole Sprouse, Joe Chrest, Carla Gugino, Henry Eikenberry, Bryce Romero.
Assista ao trailer original de Lisa Frankenstein.