Um dos maiores atrativos dos filmes de lobisomem é o momento da transformação da pessoa infectada no licantropo. Talvez tendo isso em conta, em Lobisomem, de Leigh Whannell, esse processo preenche quase todo o tempo do filme, cuja trama acontece em menos de 24 horas. Depois de ser ferido no braço por uma misteriosa criatura na floresta, Blake (Christopher Abbott) lentamente sente suas características humanas serem substituídas pelas da besta. Além dessa vagarosa transição, outro diferencial dessa versão é que o público acompanha a mudança através da perspectiva do infectado.
Assim, enquanto ele adquire as habilidades de audição aguçada, visão noturna, e forças sobre-humanas, perde a capacidade de entender o que as pessoas dizem (e reciprocamente elas não o entendem mais) e passa a vê-las de um jeito meio distorcido. As transformações corporais incluem ainda a substituição de seus dentes, seus cabelos e suas unhas. O processo se encerra por aí, pois nesse filme o lobisomem nunca vira um lobo.
De volta ao Oregon
Antes disso, o longa apresenta uma introdução que se passa numa floresta do estado de Oregon. Nesse segmento, Blake ainda é uma criança, e sofre com a superproteção do pai. Porém, nessa cena, ele descobre que existe um motivo para o temor paterno: uma criatura selvagem que anda sobre dois pés.
O enredo corta para San Francisco, trinta anos depois. Blake cuida da sua filha Ginger (Matilda Firth), tomando cuidado para não ser tão obcecado quanto o pai. Enquanto isso, a sua esposa Charlotte (Julia Garner) está viciada no trabalho como jornalista. Quando o seu pai, que estava desaparecido há anos é oficialmente considerado falecido, ele herda a casa no Oregon. Então, unindo esse acontecimento com a necessidade de afastar Charlotte do trabalho e aproximá-la da família, ele resolve passar uns dias com elas na floresta onde viveu sua infância. Mas, na estradinha de terra já perto do destino, uma criatura ataca e eles precisam se refugiar na casa.
A perda da humanidade
A transformação de Blake, por acontecer de forma gradual, durante boa parte da duração do filme, não causa tanto impacto quanto uma cena de alguns minutos concentrando a mutação completa – como a notória sequência de Um Lobisomem Americano em Londres (1981), de John Landis. A aposta de Leigh Whannel é criar uma outra sensação, a da dramática percepção de perda da humanidade por parte do protagonista.
Lobisomem é o segundo monstro clássico que Whannel leva para as telas numa nova versão. Antes, realizou o ótimo O Homem Invisível (2020), estrelado por Elisabeth Moss. No entanto, é outra obra que marcou a carreira de Whannel, Jogos Mortais (2004), no qual é roteirista, que repercute nesse filme. Novamente, o tema principal é o sacrifício, a troca de algo valioso pela possibilidade de sobreviver. Pode ser um braço, uma perna, ou uma pessoa amada. A troca de Whannel envolve o terror já muito explorado no subgênero por uma proposta nova, que vale a pena experimentar.
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Ficha técnica:
Lobisomem | Wolf Man | 2025 | 103 min. | EUA | Direção: Leigh Whannell | Roteiro: Leigh Whannell, Corbett Tuck, Lauren Schuker Blum, Rebecca Angelo | Elenco: Julia Garner, Christopher Abbott, Sam Jaeger, Matilda Firth, Benedict Hardie, Ben Prendergast, Leigh Whannell (voz).
Distribuição: Universal Pictures.
Trailer:
Trailer de “Lobisomem” (2025)