Pesquisar
Close this search box.
Lua em Sagitário (filme)
[seo_header]
[seo_footer]

Lua em Sagitário

Avaliação:
7/10

7/10

clique no botão abaixo para ouvir o texto

Crítica | Ficha técnica

“Lua em Sagitário”, a estreia em longa-metragem de ficção da diretora Marcia Paraiso, transborda de frescor. Em parte, por ser seu debut, marco que cineastas promissores aproveitam para colocar suas ideias originais em filme. Mas, também, pela atuação espontânea da dupla de jovens atores protagonistas, como se representassem a si mesmos.

Música

A música é um dos pilares do filme. O rock caracteriza o espírito de não conformismo dos dois adolescentes de Princesa, pequena cidade no oeste de Santa Catarina, influenciados por LP, difusor dessa paixão e o dono da Caverna, uma mistura de estúdio e lan house. É lá que a menina de 17 anos Ana passa grande parte de seu tempo, ouvindo as estórias de LP ao som de rock predominantemente argentino, nacionalidade do proprietário quarentão. E, aproveitando para se conectar à internet, já que sinal de 3G, só subindo no morro. Aliás, o acesso à rede lhe permite inscrever a si e a sua amiga num concurso para ganhar ingressos para um festival de música em Florianópolis, que ela ainda não conhece.

Outro garoto, um ano mais velho, chamado Murilo, também frequenta a Caverna e se inscreve no concurso. Ana se encanta com o jeito descolado do rapaz. Ele é baterista de uma banda de rock e morador de um assentamento de sem terras, e ainda por cima dirige uma motocicleta. Após se conhecerem, trocam chats mesmo estando sentando lado a lado na lan house. Com isso, a estória mescla com graça a vida no campo com a modernidade da internet e com a ideologia alternativa dos assentados. O retrato perfeito dessa mistura salta nas telas na cena quando eles estão começando uma paquera via chat na Caverna, e justo no momento de teclarem uma frase mais provocadora, a energia cai.

A modernidade sem pressa

“Lua em Sagitário” retrata esse Brasil que se moderniza em ritmo mais lento do que nas cidades grandes. Assim, os pais conservadores de Ana, defensores da propriedade e contra o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), sem saber se transformam após conhecerem Murilo. Além disso, logo após o jantar em casa com o namorado da filha, o casal volta a curtir o romance em seu casamento, antes frio.

Por seu lado, Murilo, vanguardista ideologicamente pelo ambiente em que vive, ainda é ingênuo a ponto de nunca ter conhecido o mar. Então, quando Ana e Murilo ganham os ingressos do concurso, presenteados pela amiga de Ana, o filme ganha ares de road movie. Dessa forma, o romance se mistura com a aventura de conhecer lugares nunca antes visitados por eles. Aliás, como a praia, onde Murilo se entusiasma como uma criança.

A dupla de atores principais transborda jovialidade e espontaneidade. Estranharia muito se na vida real eles fossem extremamente diferentes dos papeis que interpretam, apesar de que podem muito bem ser. Não há dúvidas que “Lua em Sagitário” se beneficia fortemente do casting perfeito desses dois promissores atores.

Direção

E é essa atuação que mantém o longa acima da média, mesmo com alguns tropeços na gramática cinematográfica. Encontramos didatismo desnecessário na cena em que os protagonistas, em sua viagem, precisam buscar abrigo em uma casa na estrada, porque a motocicleta parou de funcionar. Logo após comentarem aos proprietários: “Gostei muito da casa de vocês.”, há um corte na cena para mostrar a casa. Na mesma sequência, a câmera está no exterior da casa, se aproximando para observar pela janela os personagens conversando. Dessa forma,  dando a falsa impressão de um ponto de vista subjetivo de alguém que se encontra aí fora.

Em outro momento, quando a mãe de Ana chega na Caverna para inquirir o dono sobre o paradeiro de sua filha, ele aparece de repente, se elevando atrás do balcão e assustando a senhora, o que cria um humor infantilizado, que destoa do restante do filme. Por fim, em uma cena dramática, quando LP expõe seus lamentos, a edição insiste em inserir cortes para mostrar a chuva caindo do lado de fora, quebrando totalmente o clima da sequência.

Mas, mesmo assim, “Lua em Sagitário” se sustenta porque, além das belas interpretações de Manuela Campagna e Fagundes Emanuel, o roteiro traduz com talento a ideia do Brasil do interior sulista, a caminho da modernidade. Além disso, equilibra esse tema com a aventura do road movie que, fugindo dos clichês, nunca chega ao seu destino. Tudo isso embalado pela boa escolha de canções de rock e um belo tema principal. Enfim, um filme com o frescor que só uma turma de estreantes consegue trazer.


Lua em Sagitário (filme)
Lua em Sagitário (filme)
Compartilhe esse texto:

Críticas novas:

Rolar para o topo