Lubo se alinha aos dramas históricos dirigidos pelo italiano Giorgio Diritti. Desta vez, para contar a vida atribulada do personagem título, interpretado pelo ótimo Franz Rogowski.
A trama se inicia na Suíça, em 1939, com uma apresentação na rua da trupe de ciganos que inclui Lubo Moser e sua família. Essa rotina se interrompe com a convocação do protagonista para compor o exército que protege a fronteira do país. Enquanto cumpre sua obrigação, Lubo recebe a trágica notícia de que seus filhos foram levados pela polícia e, no incidente, sua esposa faleceu. O motivo por trás dessa agressão é o preconceito contra ciganos.
Como o filme não cobre o passado de Lubo, deixa a impressão de que ele, a partir daí, se torna uma pessoa má. Transforma-se em um desertor, e logo rouba e assassina um comerciante judeu. Essa atitude choca o espectador, mesmo com o cuidado que o diretor tem de evitar a violência explícita, mostrando os crimes de longe. Dessa forma, tenta não vilanizar o personagem principal.
Apesar disso, irrompe na tela, inevitavelmente, um protagonista complexo. Contrapõe-se a esse ímpeto de determinação impiedosa atrás de seus filhos desaparecidos seu amor verdadeiro por Margherita (Valentina Bellè), com quem deseja constituir uma nova família, em Bellinzona na Suíça, doze anos depois.
Não intencionalmente, Lubo lembra o Tom Ripley criado pela escritora Patricia Highsmith, eternizado no cinema por Alain Delon em O Sol por Testemunha (Plein Soleil, 1960), de René Clément. Como Rippley, Lubo engana as pessoas, assume a identidade da sua vítima. Através de artimanhas, aparenta ser um homem de negócios bem-sucedido, refinado, charmoso e, ainda, poliglota. Aliás, tal talento para a dissimulação se encaixa com a abertura do filme, quando Lubo se apresenta artisticamente como um urso e como uma mulher.
Alguns problemas
O filme se prejudica com algumas redundâncias. Por exemplo, a conversa com o comissário, quando ele relata fatos que o espectador já viu. Além disso, a fotografia noturna, demasiadamente escura, talvez para caracterizar a índole sombria do protagonista, dificulta a discriminação do que está acontecendo.
Contudo, o mais complicado é converter o longa em um filme denúncia na parte final, mudando o direcionamento até então apresentado. A vida pessoal de Lubo deixa de ser prioridade. No lugar, o foco se direciona para o fato de ele reunir provas contra a Fundação Pró-Juventude (seu projeto Kinder der Landstrasse), cujas atrocidades incluem pedofilia e um plano abrangente de eliminar povos considerados nocivos, como os ciganos. A cartela final indica que só a denúncia de Lubo não foi suficiente, pois só em 1972 houve uma condenação.
Lubo, portanto, reúne dois assuntos importantes. A vida atribulada do personagem principal, e a sua denúncia contra a tal organização. Em que pese a relevância e o interesse desses pontos, eles não se integram naturalmente no filme. Não se explica, por exemplo, como Lubo conseguiu reunir as evidências, exposição que daria um sentido mais sólido ao enredo.
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Ficha técnica:
Lubo | 2023 | Itália, Suíça | 181 min. | Direção: Giorgio Diritti | Roteiro: Giorgio Diritti, Fredo Valla | Elenco: Franz Rogowski, Christophe Sermet, Valentina Bellè, Noémi Besedes, Cecilia Steiner, Joel Basman, Philippe Graber, Massimiliano Caprara.
Distribuição: Imovision.
Trailer: acesse aqui.