A história contada em Macabro se baseia nos cruéis assassinatos em série dos Irmãos Necrófilos, que aconteceram na Serra dos Órgãos, em Nova Friburgo (RJ), em 1995.
O prólogo do filme força uma semelhança com Tropa de Elite (2007) e sua continuação de 2010, que registra a maior bilheteria na história do cinema nacional. Em uma missão numa favela do Rio de Janeiro, o sargento do BOPE Teobaldo mata por engano um homem inocente. A fotografia noturna com cores fortes e os planos curtos ritmados repetem a tensão dos filmes com o Capitão Nascimento. A referência é uma jogada comercial para atrair o público que o diretor conquistou naqueles filmes, nos quais ele atuou como produtor.
O pretexto para esse trecho inicial é que esse erro de Teobaldo o leva de volta para a pequena cidade onde nasceu, na Serra dos Órgãos, no interior do Rio de Janeiro. Lá ele investigará a série de crimes hediondos que deixou várias vítimas cruelmente assassinadas e depois submetidas a necrofilia (prática de sexo com defuntos). Os suspeitos são os dois irmãos Matias e Inácio, membros da única família negra da comunidade. Além da dificuldade em localizar esses garotos, o sargento enfrenta a hostilidade dos moradores e antigos dramas pessoais.
A direção
O diretor Marcos Prado constrói eficientemente o clima sinistro de Macabro. A bela paisagem do local, com as serras ao fundo e névoas baixas, é fotografada com aspecto assustador, reforçado pela trilha sonora. As cenas noturnas mantêm aquela tonalidade forte do prólogo na capital fluminense, e captam o tom sombrio sem deixar escuro demais – erro que muitos filmes cometem.
O suspense em relação aos jovens assassinos é sustentado durante todo o filme, porque vemos apenas o seu vulto, e isso estimula a criação de uma imagem animalesca na cabeça do público. Apenas perto da parte final um dos irmãos é apresentado e o outro, o mais perigoso, somente no derradeiro momento, sem que ele pronuncie uma palavra sequer, reforçando a ideia de ele ter se transformado numa criatura bestial.
Por outro lado, como Macabro se baseia em acontecimento conhecidos, amplamente divulgados na imprensa, a trama não pode se concentrar na investigação do sargento Teobaldo. De fato, há quase nenhuma dúvida de quem está por trás dos crimes – a dificuldade é localizar os irmãos suspeitos. Em alguns trechos, o filme parece se dirigir para essa linha de caça aos assassinos, mas isso se perde, principalmente quando o capitão do BOPE resolver levar uma tropa grande para o local.
Questões pessoais
Então, para compensar a perda dessa linha narrativa, o filme investe nas questões pessoais do protagonista Teobaldo, e em problemas sociais, como o racismo e a religiosidade. Descobrimos paulatinamente os motivos que forçaram o sargento a abandonar a cidade onde nasceu, e a razão da hostilidade do seu tio em relação a ele. Assim, personagem principal ganha consistência.
Adicionalmente, o filme levanta a questão da comunidade local como a responsável pelo desvio mental dos Irmãos Necrófilos. Afinal, a família deles sempre foi alvo do racismo dos demais moradores, todos brancos. Como resultado, esse maltrato levou ao vício da bebida do pai deles, que descontava nos meninos a violência que sofria. Para piorar a situação, os garotos eram também abusados sexualmente. Essa abordagem também fortalece o filme, pois foge de buscar motivos sobrenaturais ou vazios sobre o distúrbio que recaiu sobre eles.
Policial e terror
Macabro se mantém dentro do gênero policial, mas com forte tendência ao terror. Por isso, os cadáveres em posições aterrorizantes deixadas pelos criminosos são amplamente explorados no filme, até com uma insistência exagerada de planos com essas imagens. Nesse sentido, o longa-metragem recorre também ao recurso do susto, mas ele se restringe a um só momento.
E, nos créditos finais, o filme apresenta os fatos dessa história, e ilustra com as manchetes dos jornais da época sobre esses crimes cometidos pelos irmãos Ibrahim e Henrique (os nomes reais deles). Enfim, Macabro trabalha consistentemente esses acontecimentos e os transforma num eficiente filme policial com clima de terror.
Ficha técnica:
Macabro (Macabro, 2019) Brasil. 100 min. Dir: Marcos Prado. Rot: Lucas Paraizo, Rita Gloria Curvo. Elenco: Renato Góes, Amanda Grimaldi, Flavio Bauraqui, Diego Francisco, Eduardo Tomaz, Osvaldo Mil, Paulo Reis, Claudia Assunção, Laila Garin, Regiana Antonini, Guilherme Ferraz.