Mãe + Mãe leva para as telas as lembranças carinhosas da diretora Karole Di Tommaso da luta para sua companheira Ali engravidar e, assim, serem mães.
A atriz Linda Caridi interpreta Karole, que conduz o filme com sua narração. E, ao manter a estória sob sua perspectiva, Mãe + Mãe carrega um forte tom de ternura nesse relato. Ou seja, é como quando lembramos hoje de um período de nosso passado que provocou enorme tensão, e que acabou resolvido. O drama é a tentativa de engravidar Ali, sua companheira, processo complicado pelo fato de a Itália não permitir adoção nem inseminação artificial de casais lésbicos, conforme o filme. Por isso, elas precisam gastar o dinheiro que não têm para realizar o procedimento em Barcelona.
Sequências oníricas
Para ilustrar a ansiedade da protagonista, Karole Di Tommaso utiliza várias sequências oníricas no longa. Assim, em diversas situações, vemos metáforas do que mais a aflige. Por exemplo, o casal na ponte com um carrinho de bebê vazio. Além disso, o filme traz também alguns flashbacks da personagem. Portanto, caso o espectador não curta essas intromissões fantásticas, dificilmente ele apreciará Mãe + Mãe.
Outra característica do filme é o seu tom otimista. Apesar do drama da incerteza do sucesso da inseminação, as duas protagonistas sempre se apoiam e o amor entre elas nunca é abalado. Adicionalmente, Karole parece blindada contra as críticas que ouve em relação ao lesbianismo. De fato, ela não se deixa abalar, tal como simbolicamente ela suporta os sinos da igreja de sua cidade natal.
Personagens não evoluem
Ao contrário da narrativa tradicional, Mãe + Mãe não trabalha o arco de suas personagens. Elas iniciam e terminam o filme da mesma forma, sem alterações em suas características. Ou seja, a trama evolui para o desfecho do processo de inseminação artificial, mas as protagonistas em si continuam iguais. E isso acontece também com o coadjuvante Andrea, o ex-namorado de Ali que orbita o casal como um parasita. Aliás, um personagem muito irritante. Estranhamente, notamos também a ausência do pai de Karole quando ela retorna para sua cidade.
Por fim, os créditos finais guardam uma surpresa. Os personagens surgem caminhando sobre um viaduto, como se agradecessem ao espectador. Assim, lembram os finais de peças teatrais, assim como dos filmes de Bollywood, mas sem a parte musical.
Em suma, a ternura predomina em Mãe + Mãe. Até mesmo nas cenas de sexo entre as protagonistas lésbicas, marcadas mais pelo carinho do que pela sensualidade. Na verdade, o filme parece procurar a expressão sensorial do que a diretora sente hoje em relação a essa fase de sua vida. E privilegia essa sensação acima da narrativa.
___________________________________________
Ficha técnica:
Mãe + Mãe (Mamma + Mamma) 2018. Itália. 81 min. Direção: Karole Di Tommaso. Roteiro: Karole Di Tommado, Chiara Ridolfi. Elenco: Linda Caridi, Maria Roveran, Andrea Tagliaferri, Silvia Gallerano, Stefano Sabelli, Anna Bellato.
Distribuição: Supo Mungam Films
