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Magnólia (filme)
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Magnólia

Avaliação:
10/10

10/10

Crítica | Ficha técnica

Magnólia segue o estilo dos filmes de Robert Altman. Nesse sentido, acompanha vários personagens que se conectam de alguma forma. E a grande quantidade de personagens não impede que sejam construídos com profundidade.

E Paul Thomas Anderson acrescenta a esse formato a abordagem metafórica. Sua introdução instiga o público a assistir ao filme atento a coincidências bizarras que podem de fato ocorrer. Afinal, o improvável não significa o impossível. Os esquetes que exemplificam essa afirmação são muito bem bolados e até tragicamente engraçados – poderiam até compor uma série com vários episódios com essa pegada.

A(s) história(s)

A história intrincada costura eficientemente a relação entre os variados personagens. Dessa forma, Linda se casou por interesse com Earl, que agora está prestes a morrer, e quer rever o filho com quem está brigado. E esse filho hoje é Frank Mackey, um famoso mentor para homens que querem dominar as mulheres.

Enquanto isso, Donnie Smith, um homem que ganhou dinheiro e fama num concurso de conhecimento na televisão, hoje está perdido e sem dinheiro. O apresentador desse programa, Jimmy Gator, ainda continua na ativa, mas com câncer em estágio terminal. Ele enfrenta problemas com a filha Claudia, que virou uma garota de programa e vive drogada. Um menino prodígio em seu programa é usado pelo pai e pressionado pela produtora. Jim Kurring, um policial inseguro tenta investigar o responsável pelo cadáver que ele descobre em um apartamento de uma mulher. Um menino apelidado de Worm tenta lhe dar uma dica em forma de rap.

Análise

Conforme o filme Magnólia expõe esse emaranhado de relações, mais o espectador se aproxima dos personagens. Ao conhecer seus dramas, acaba por se colocar no lugar deles e assim se cria a empatia.

Para manter a unidade entre as cenas com diferentes protagonistas, Paul Thomas Anderson utiliza a trilha sonora. Deixa a música de fundo com um volume mais alto que o normal e a faz atravessar as cenas, criando essa unicidade. A fala do personagem também assume esse papel, ligando diferentes situações, o que é ainda mais inusitado. O diretor ousa até filmar os atores cantando trechos distintos da mesma canção numa das últimas cenas.

Magnólia necessita de suas mais de três horas de duração para construir solidamente essa rede de relacionamentos. E a câmera se move muito, seja em travellings variados ou em planos sequências, deixando o ritmo agitado, que acompanha a narrativa, colando uma revelação importante atrás de outra. Outro aspecto distintivo é sua estrutura não linear, que, ao mesmo tempo que exige um esforço maior do espectador, facilita a descoberta de peças chaves nesse quebra-cabeça bolado por Paul Thomas Anderson. Por exemplo, a perda da arma pelo policial aparece na tela após o momento em que aconteceu, e elucida o crime que aconteceu por causa desse revólver.

Clima

Mas o mais genial em Magnólia é o clima do tempo. Tão importante esse recurso que a previsão aparece na tela recorrentemente. O clima seco do início do filme começa a se tornar mais úmido, até virar uma enxurrada. Os personagens comentam sobre a chuva, não só porque é incomum na árida Los Angeles, mas para alertar o espectador. A chuva torrencial marca o ponto mais dramático do filme, quando as situações limites dos protagonistas parecem caminhar para o pior dos desfechos.

Surge, então, uma inesperada chuva de sapos. O fenômeno se encaixa com o prólogo que abordou as coincidências improváveis, porque é um fato que já aconteceu, quando um vendaval carrega os anfíbios de algum lago nas proximidades. Essa é uma das explicações para essa sequência da chuva de sapos.

Porém, ela possui também uma representação bíblica. Está relacionada ao Êxodo e as dez pragas do Egito, porque o filho do velho moribundo não quer que seu pai se vá, especificamente, e para punir a humanidade que está agindo de forma condenável.

Redenção

O fenômeno climático mostra o caminho da redenção para os protagonistas. O policial que perdeu sua arma, e que por isso provocou a morte acidental do corpo que encontrou, vê o revólver caindo do céu. O garoto que cometeu esse crime e que tentou em vão se entregar agora salva a vida da esposa do velho moribundo quando ela está inconsciente por overdose. Esse velho se reconcilia com o filho.

O ex-menino prodígio desiste de roubar a empresa onde trabalha e o atual garoto prodígio enfrenta o pai para que ele não o explore mais. O apresentador não consegue se matar depois que confessa à esposa que assediou a filha e ela agora conta com a simpatia da sua mãe para enfrentar seus traumas. E é o sorriso dela que estampa a cena final, como um sinal de esperança.

Passado

Magnólia deixa claro que o passado sempre nos persegue, mas essa redentora parte final indica que ele não deve determinar nosso futuro. Todos os protagonistas se deparam com os reflexos do seu passado – exceto o garoto prodígio de hoje, que está agindo para mudar seu presente.

E, como nos filmes de Robert Altman, Magnólia reforça a importância de se conhecer melhor as pessoas ao seu redor. Entendendo seus passados, podemos compreendê-las como são atualmente, sem julgá-las. Ao fim do filme, deixamos de lado nossos preconceitos contra Frank Mackey, Linda Partridge, Jim Kurring, Melora Walters… e várias pessoas que conhecemos na nossa vida real.


Ficha técnica:

Magnólia (Magnolia, 1999) EUA. 188 min. Dir/Rot: Paul Thomas Anderson. Elenco: Tom Cruise, Jason Robards, Julianne Moore, Melora Walters, Philip Baker Hall, Thomas Jane, Melinda Dillon, Jeremy Blackman, Michael Bowen, William H. Macy, Philip Seymour Hoffman, John C. Reilly, Cleo King, Don McManus, April Grace, Miguel Pérez, Alfred Molina, Felicity Huffman, Luis Guzmán, Michael Murphy.

Assista: Paul Thomas Anderson fala sobre “Magnólia”

Onde assistir:
Magnólia (filme)
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