A comédia brasileira Maior Que o Mundo apresenta de cara várias cenas de sexo e drogas, para caracterizar o ambiente em que vive o protagonista Kbeto (Eriberto Leão). É também pretexto para apresentar o personagem. Mas, acima de tudo, parece uma apelação comercial. De fato, tem esse efeito – porém, o diretor Beto Marquez explica na divulgação do longa que o seu filme homenageia o cinema marginal da Boca do Lixo (daí as locações na região da Rua Augusta). Então, o apelativo faz sentido, pois era uma das características das pornochanchadas dessa produção.
Logo entendemos que Kbeto é um largado. Embora seja escritor, e tenha ganhado dinheiro com seu primeiro livro, ele não faz muito esforço para escrever um novo. Passa os dias, literalmente, sentado num bar bebendo (e até dormindo). À noite, se juntam a ele seus melhores amigos Mina (Luana Piovani) e Kim (Lucas Miagusuku). E, quando Mina apresenta Kbeto a sua amiga Audra, que é fã do livro dele, todos acabam na cama. Por fim, completa o seu círculo de relacionamento a sua filha Maria João (Maria Flor).
A trama
O filme gasta aproximadamente um terço de sua duração para estabelecer esse cenário. O que não é ruim, pois os personagens são interessantes e carismáticos. Mas a narrativa precisa andar, e isso acontece quando Kbeto encontra por acaso um diário que conta uma história arrebatadora. Assim, nasce seu segundo livro. Porém, claro, o autor verdadeiro vai aparecer. E ele é um cafetão perigoso.
A trama farsesca acaba sendo o ponto mais fraco do filme. Além de ser um argumento batido, a história não se sustenta, pois não apresenta motivos convincentes para que o autor original não elimine Kbeto. Além disso, o bandido exige o diário de volta com veemência, mas o objeto logo deixa de ser importante (é até destruído). Acima de tudo, esse enredo envolve a ameaça de morte para o protagonista, o que se adequa à overdose da primeira parte, mas não com tentativas recorrentes de investir num humor mais infantil, geralmente com o capanga do bandido. Por exemplo, quando ele está em segundo plano na tela comendo um sanduíche gigantesco.
O filme acerta quando Kbeto age como os personagens que Woody Allen encarna em seus filmes quando está diante de perigo. Ou seja, aquele sorriso nervoso e uma tentativa frustrada de desarmar o oponente com uma piada, muito recorrente em A Última Noite de Boris Grushenko (Love and Death, 1975). No aspecto da produção, sua fotografia com cores fortes e as locações em casas noturnas da Rua Augusta são elogiáveis. Mas, comete a gafe de usar uma casa como se fosse um apartamento, um incômodo que poderia ser facilmente eliminado com uma alteração no roteiro.
Enfim, Maior Que o Mundo ficou capenga, pois carece de uma trama mais robusta. Com ela, seria menos farsesco e a homenagem à Boca do Lixo poderia se transformar numa modernização, um retrato mais autêntico do sexo e das drogas da época, e não precisaria replicar os seus defeitos.
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Ficha técnica:
Maior Que o Mundo | 2022 | Brasil | Direção: Beto Marquez | Roteiro: Reinaldo Moraes | Elenco: Eriberto Leão, Luana Piovani, Gabi Lopes, Giovanni Venturini, Lucas Miagusuku, Maria Flor, Carolina Miranda, Eduardo Parisi, Fernanda Young.
Distribuição: Imagem.