Mamonas Assassinas: O Filme
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Mamonas Assassinas: O Filme

Avaliação:
5.5/10

5.5/10

Crítica | Ficha técnica

Como filmar a cinebiografia de uma banda que durou apenas alguns meses? Mamonas Assassinas: O Filme enfrenta esse desafio com um roteiro de almanaque (ou de wikipedia, para sermos mais atuais). Ou seja, de forma enxuta e superficial.

Por se tratar de uma banda com cinco integrantes, o enredo começa na formação da banda, inicialmente chamada Utopia, porque seria inviável começar pela infância de cada um. Para ficar ainda mais sucinto, o filme se concentra apenas na trajetória do vocalista Dinho (Ruy Brissac), e dos irmãos Reoli – o baixista Samuel (Adriano Tunes) e o baterista Sérgio (Rhener Freitas). Acompanhamos, assim, como era a rotina deles e conhecemos suas famílias. Do guitarrista Bento (Beto Hinoto) e do tecladista Júlio (Robson Lima) não sabemos suas profissões nem quem são seus pais (esses só surgem na segunda metade do longa).

A abertura dá a impressão de que o filme trilhará um caminho inusitado. A voz de Dinho surge em off, seu espírito presente nos dias atuais, bem depois do acidente aéreo fatal que vitimou a banda em 1996. Seria interessante manter essa narração comentando a jornada dos Mamonas Assassinas, uma perspectiva inusitada que renderia muitas percepções que poderiam tender para o nostálgico, para o sarcástico, para o melancólico etc. Porém, talvez fosse ousado demais, e o que a produção apresenta, até pela contratação de um diretor, Edson Spinello, especialista em séries, é um formato mais tradicional. A narração espírita fica perdida, sem nem um fechamento na conclusão, que poderia muito bem substituir as batidas cartelas informativas.

Sem surpresas

Quem conhece os Mamonas Assassinas, os fãs principalmente, não encontrarão nada de novo neste relato. O roteiro passa pelo dia em que Dinho se voluntariou para cantar uma música com a banda Utopia, e assim foi convidado a fazer parte do grupo. Não faltam, também, momentos históricos como o desprezo da casa de shows Thomeuzão, que não aceitou que a banda se apresentasse ali. Ou quando gravaram o primeiro álbum com o produtor Rick Bonadio (aqui chamado de Enrico Costa), que foi crucial para que o grupo trocasse o rock progressivo do Utopia para abraçar o humor natural dos integrantes e se chamarem Mamonas Assassinas. E, logo, mostra o sucesso meteórico até a tragédia.

Nada sai do convencional, o que até vai contra o caráter anárquico dos Mamonas, que ousaram misturar vários estilos de música embalados por um humor muito antenado com sua época. Nesse aspecto, faz falta uma melhor caracterização dos anos 1990. O filme não se preocupa em levar para as telas o espírito daqueles tempos, das bandas de garagem, da televisão ao vivo e a cabo, da irreverência antes do politicamente correto. Enfim, de todo esse ambiente que inspirava as letras espertas da banda. Lembro-me do recente filme Dezesseis Facadas (Totally Killer, 2023), que explora muito bem o que era permitido e que hoje parece impensável. Aliás, em termos de caracterização de época, Mamonas Assassinas: O Filme falha, a direção de arte, a maquiagem, os figurinos pouco se esforçam para nos levar de volta no tempo. Detalhes – como a agora obrigatória tomada com três pinos, mas inexistente em 1996 – passam batido e estragam a experiência nostálgica.

Caracterização convincente, narrativa direta

Por outro lado, a escolha do elenco e a caracterização dos atores acertam em cheio. Os atores se parecem com os retratados e ainda captam o talento natural de fazerem humor besteirol espontaneamente. Até por isso, há longos trechos de músicas com os atores interpretando os Mamonas.

A narrativa tem preocupação de entregar tudo bem mastigado para o espectador. Mas, com isso, deixa tudo direto demais. Assim, o que poderia ser sentimental, acaba sendo apelativo. Por exemplo, várias falas martelam o fato de que os três protagonistas possuíam empregos modestíssimos. Mas, não desistiram do sonho e conseguiram o sucesso. E essa mensagem volta em outros momentos. Como nas conversas de Dinho e Júlio com seus respectivos pais, e de Bento com sua mãe. Aliás, é só nesses trechos que vemos Júlio e Bento com uma parte de suas famílias. No caso dos irmãos Reoli, o drama novelesco rola entre eles, na subtrama tola da namorada pilantra de Samuel. Por fim, a volta por cima ainda ganha as telas por longos minutos durante o discurso de Dinho no show triunfal no tal Thomeuzão.

A superficialidade fica evidente na resolução dos conflitos. Por exemplo, Dinho é influenciado a deixar a banda e seguir carreira solo. Seu enorme dilema, porém, é logo esclarecido com uma rápida conversa com o produtor, seguida de um abraço. Da mesma forma, tão fácil é a reconciliação entre os irmãos músicos, ou a volta da namorada traída. Enfim, é o preço a se pagar para conseguir um relato enxuto.

Final feliz, apesar da tragédia

O filme tenta, porém fica acanhado, na exploração da tragédia. Uma alucinação, a volta da namorada que tinha indo embora, a despedida de Rico, entre outras coisas, tocam de leve no impacto da morte trágica da banda em franca ascensão. Poderia mostrar a reação dos familiares e dos fãs, lançar suposições sobre o futuro desses novos astros da música e do humor. Mas, fica aquém dessa provocação emocional. A intenção é clara: como o filme se destina aos fãs dos Mamonas Assassinas, muito mais do que angariar novos apreciadores, o longa quer que todos saiam felizes do cinema.

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Ficha técnica:

Mamonas Assassinas: O Filme | 2023 | Brasil | Direção: Edson Spinello | Roteiro: Carlos Lombardi | Elenco: Ruy Brissac, Rhener Freitas, Adriano Tunes, Robson Lima, Beto Hinoto, Fefe Schneider, Jessica Córes, Jarbas Homem de Mello, Guta Ruiz, Joãozinho, Isa Prezoto, Ton Prado, Nadine Gerloff, Patrick Amstalden.

Distribuição: Imagem Filmes.

Assista ao trailer aqui.

Onde assistir:
Mamonas Assassinas: O Filme
Mamonas Assassinas: O Filme (divulgação)
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