O ator Marco Nanini e o diretor Armando Praça de Greta conversaram com os jornalistas após a sessão para imprensa do filme em São Paulo.
Em Greta, Nanini interpreta Pedro, um enfermeiro homossexual de 71 anos que ajuda um homem hospitalizado, Jean (Démick Lopes), a fugir, escondendo-o em sua casa. O envolvimento sexual e afetivo entre eles mudará a forma como Pedro encara a solidão.
Marco Nanini comentou que recebe convites para papéis ousados como esse quando o trabalho é para o cinema ou teatro, não para a televisão. E que foi atraído para esse projeto também porque ele permite mostrar o seu envelhecimento físico para o público que o acompanha há tanto tempo. Complementou ainda que o Pedro é um personagem difícil de se encontrar nos roteiros – mais do que LGBT, ele é um excluído.
O diretor estreante Armando Praça conhecia o texto que deu origem ao filme – a peça “Greta Garbo Quem Diria Acabou no Irajá”, do dramaturgo Fernando Melo – desde os anos 1980. Escrita em 1973, a obra foi levada ao teatro em várias adaptações. Ao assistir uma delas, em 2008, Armando percebeu o quanto a abordagem estava anacrônica. Não faz mais sentido a plateia rir do desejo íntimo de uma pessoa idosa homossexual.
Por isso, no filme Greta, Armando aborda o texto sem a visão caricata e debochada da peça original.
Greta no Festival de Berlin
O filme foi selecionado para a Mostra Panorama do Festival de Berlim de 2019, além de mais vinte festivais internacionais, e sempre bem recebido. Tanto Armando Praça quanto Marco Nanini afirmam que foi uma bela experiência participar do festival alemão, em um ambiente repleto de cinéfilos, onde se respirava cinema.
Momento político
Quando Greta foi idealizado e filmado, o governo era outro. Por isso, foi possível produzí-lo sem nenhuma censura. Hoje isso mudou com a entrada do novo governo, os artistas agora são castrados. Armando ressalta que seu filme não é panfletário, mas que seu aspecto político agora vem para o primeiro plano.
E complementa: “Greta é um filme necessário nesse momento político. Traz à tona personagens forçados a serem invisíveis, e que merecem existir como eles são.”
Por Eduardo Kaneco com a colaboração de Lucas Figueiredo Fernandes
Assista: trechos da entrevista coletiva
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