Mato Seco em Chamas (filme)
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Mato Seco em Chamas

Avaliação:
5.5/10

5.5/10

Crítica | Ficha técnica

Mato Seco Em Chamas se inicia num cenário pós-apocalíptico. A escuridão da noite recebe a luz alaranjada do petróleo queimando. Mulheres vestindo shorts curtos expõem suas armas quando um grupo de motociclistas se aproxima. A influência de Mad Max (1979) é evidente, e admitida pelos próprios realizadores, a portuguesa Joana Pimenta, estreante em longas, e o goianiense Adirley Queiros, aqui em seu sexto longa.

Após os créditos iniciais, a chave do filme muda. Uma das protagonistas conta a história de sua irmã, de apelido Chitara, que iniciou uma refinaria clandestina, roubando petróleo de um oleoduto em Sol Nascente, em Ceilândia (DF). Estamos, então, na chave do documentário, e o roteiro se baseia, de fato, nas experiências das quatro personagens principais – Joana, Léa, Andreia e Débora – que interpretam a versão fílmica de si mesmas. Assim, nesse tom documental, a maior parte das cenas são extensas, formadas por planos longos. Por exemplo, temos a cena em que Andreia vai a uma missa. Nela, a câmera fica fixa em close-up na protagonista, enquanto a cantoria conduz o rito religioso. Outros planos filmam outros participantes, mas a ideia é retratar esse aspecto da vida dessa personagem com o cuidado de não se afastar da realidade. Da mesma forma, várias outras cenas longas possuem similar intenção. Algumas incluem depoimentos, outras acompanham alguma situação típica, e outras ainda registram conversas.

Há muita música no filme. Mas, ao contrário dessas canções religiosas na missa, o rap é que predomina. Suas letras, agressivas e extremamente sexualizadas dão o tom do filme, que por sinal representa o cotidiano de boa parte dos moradores da região. A atração consiste em pinçar personagens que foram além do pacato cidadão. Por isso, o quarteto de protagonistas se arrisca num empreendimento ilegal e acaba cumprindo pena na prisão.

Documental acima da ficção

Mato Seco em Chamas consegue extrair um retrato autêntico, com frases ditas num linguajar próprio das pessoas em foco, algo possível de alcançar por conta da escalação de não-atores. Por outro lado, no aspecto da narrativa ficcional, já não é tão eficiente. A não-linearidade torna confusa a trama, que parece não saber para onde caminhar. De fato, o clímax dramático fica de lado. A queima do tanque parece pouco como conclusão.

Além disso, não funciona a referência política da transição do governo Dilma para o governo Bolsonaro. Vemos um grupo de bolsonaristas pedindo, à época, o impeachment e a eleição do candidato de extrema direita. Enfim, a vitória de Bolsonaro surge na tela quando as protagonistas observam de longe os fogos de artifício, mesclados com os trovões que anunciam tempos ruins. Porém, o filme não consegue demonstrar o impacto disso na jornada das protagonistas. O veículo que é quase um tanque de guerra já entrara na história antes do mandato de Bolsonaro – ou será que só veio depois mas a não-linearidade não deixa claro?

De qualquer maneira, Mato Seco Em Chamas impacta pela coragem em mostrar personagens marginais praticamente sem os filtros do cinema ficcional. O formato das cenas longas foge do cinema clássico e do cinema contemporâneo, e isso também chama a atenção do espectador. No entanto, não consegue engajar com sua narrativa confusa e lenta. Além disso, o fato de aproximar demais as protagonistas do documental, enfraquece a capacidade de o filme fazer o público torcer por elas. Em suma, podemos resumir que o documental se sobrepõe à ficção, e assim deve ser visto para melhor apreciação.

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Ficha técnica:

Mato Seco Em Chamas | 2022 | Brasil, Portugal 153 min | Direção: Joana Pimenta, Adirley Queirós | Roteiro: Adirley Queirós | Elenco: Joana Darc Furtado, Léa Alves da Silva, Andreia Vieira, Débora Alencar, Gleide Firmino, Mara Alves.

Distribuição: Vitrine.

Trailer:
Mato Seco em Chamas
Onde assistir:
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