Em “Medo Profundo”, duas irmãs resolvem encarar a aventura de mergulhar em uma jaula rodeada por tubarões. Porém, o guindaste do barco quebra e as duas vão parar no fundo do mar. O oxigênio está acabando e elas precisam subir à tona sem que algum tubarão as ataque.
A tecnologia atual, teoricamente, favorece novos filmes sobre tubarões. Décadas atrás, Steven Spielberg conseguiu realizar o melhor exemplar do gênero tendo à sua disposição um nada convincente tubarão mecânico, graças ao talento dele. Em “Medo Profundo”, acontece o oposto. Os efeitos visuais são convincentes, até mais do que no eletrizante “Águas Rasas” (The Shallows, 2016), com Blake Lively. Contudo, o que falta neste filme de Johannes Roberts é suspense.
Ao contrário de “Tubarão” (Jaws, 1975) e “Águas Rasas”, o tubarão em “Medo Profundo” não existe como personagem. Ou seja, bão há um animal com vontade de assassinar pessoas, com intenção própria de matar o humano que ousou desafiá-lo. Essencialmente, as duas irmãs enfrentam o desafio de salvar suas vidas após o acidente com a jaula. Então, os tubarões são apenas o maior obstáculo para conseguirem. Não temos certeza nem de quantos tubarões são, e eles não as atacam por algum motivo especial. Mas, apenas porque, por instinto, querem se alimentar. Apesar de ser a opção mais razoável, mais próxima da realidade, isso acaba com o suspense.
Claustrofóbico
Resta, ainda, o clima claustrofóbico de se estar em águas profundas. Essa sensação é construída desde o momento em que as garotas entram na jaula, quando a câmera assume o ponto de vista subjetivo delas olhando de dentro da água para o homem travando a porta da gaiola. A partir daí, a câmera permanece submersa, mantendo o clima de imersão total e isolamento do mundo acima. A preocupação constante com o oxigênio que vai acabando incrementa a agonia da necessidade de fugir dali. As tentativas de sair, porém, são frustradas por um tubarão que rodeia a região.
Então, o filme segue nessa toada eficiente até o final do segundo ato, quando surge uma desnecessária cena de alucinação que leva as personagens de volta ao barco. Aliás, muito mais que desnecessária, ela rompe a imersão tão bem construída até aquele momento. Não haveria maior problema em inserir a alucinação, desde que ela nunca mostrasse cenas fora da água.
Por fim, o epílogo, que se segue logo após a cena, estraga de vez o filme. A personagem no fundo do mar, repentinamente passa a ouvir o homem que está no barco, algo que não era possível até então e que obrigava as garotas a saírem da jaula para subirem até encontrarem o sinal. E, para piorar, a guarda costeira chega nadando até o local, mergulhando sem problemas numa região em que havia, pelo menos, um perigoso tubarão.
Em suma, assista “Medo Profundo” somente até dois terços do filme e se envolva com o clima angustiante de ficar perdido em uma jaula no fundo do mar. A partir daí, pode ir embora da sala de cinema, porque o filme desperdiça tudo com as terríveis soluções do roteiro.
Ficha técnica:
Medo Profundo (47 Meters Down, 2017) Reino Unido/República Dominicana/EUA, 89 min. Dir: Johannes Roberts. Rot: Johannes Roberts, Ernest Riera. Elenco: Mandy Moore, Claire Holt, Chris Johnson, Yani Gellman, Santiago Segura, Matthew Modine.
Playarte Pictures
Trailer:
Assista: entrevista de Mandy Moore e Claire Holt sobre “Medo Profundo”