Francis Ford Coppola parece inconformado com o mundo em que vive. E esse sentimento o impulsiona de volta a uma superprodução potencialmente tão autodestrutiva quanto Apocalypse Now (1979). Ao mesmo tempo, a um projeto artisticamente tão ousado quanto O Fundo do Coração (1981). Já o que ele tem a dizer, ou criticar, posiciona o seu novo filme, Megalópolis, próximo da trilogia O Poderoso Chefão.
Megalópolis compara uma grande cidade americana num futuro próximo à Roma Antiga, inclusive nos nomes dos personagens. No filme, enquanto os poderosos desfrutam do luxo e da luxúria, o povo vive na pobreza. E o principal alvo da insatisfação popular é o prefeito Cicero (Giancarlo Esposito). E, para amargar ainda mais o desgosto dele, sua filha Julia (Nathalie Emmanuel) começa a trabalhar para o seu rival Cesar Catilina (Adam Driver), um gênio que lançou um projeto para transformar radicalmente a cidade. Contra os dois, entra o vilão da história: Clodio Pulcher (Shia LaBeouf), capaz de apelar para os golpes mais baixos para ser o novo líder da cidade.
Além deles, correm por fora o pai de Clodio, Hamilton Crassus III (Jon Voight) e sua nova esposa, a jovem repórter Wow Platinum (Aubrey Plaza), tão ardilosa quanto o próprio Clodio.
Fugindo do cinema médio
Coppola conta esse emaranhado de intrigas de forma nada convencional. É como se ele não aceitasse cenas burocráticas. Tudo ganha dimensões grandiosas, seja no visual impressionante (alguns criados por computador, outros construídos em estúdio), seja na dramatização operística (marca registrada do diretor) e na inclusão de citações literárias. Além disso, o filme constantemente entra no fantástico, como o poder de Cesar de parar o tempo.
Esse estilo exagerado tanto pode extasiar o espectador quanto cansá-lo, depende muito do gosto de cada um. Mas, é uma obra para ser apreciada com calma, preferencialmente em uma revisão, quando a narrativa não atrapalha a experiência. O certo é que Coppola não aceita o medíocre, porque acredita que sua mensagem precisa ser ouvida, não ignorada. Em parte, essa necessidade soa forçada, por causa das constantes intromissões da narração de Fundi Romaine (Laurence Fishburne), o motorista de Cesar. Na conclusão, o recado se torna expresso: o mundo está no rumo errado. Por isso, o último plano deposita na futura geração a esperança de um futuro melhor.
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Ficha técnica:
Megalópolis | Megalopolis | 2024 | 138 min. | EUA | Direção: Francis Ford Coppola | Roteiro: Francis Ford Coppola | Elenco: Adam Driver, Giancarlo Esposito, Nathalie Emmanuel, Aubrey Plaza, Shia Labeouf, Jon Voight, Laurence Fishburne, Talia Shire.
Distribuição: O2 Play.