“Meninos de Kichute”: uma viagem nostálgica aos tempos do Kichute
“Meninos de Kichute” conduz o espectador para o ano de 1975. Em uma pequena cidade do interior, vive Beto (Lucas Alexandre), um menino de doze anos que adora jogar futebol, e sonha em ser goleiro. Mas, seu pai, o autoritário e religioso Lázaro (Werner Schünemann) o proíbe de jogar, pois para ele isso estimula a competitividade, desrespeitando os dogmas de deus.
Como em “Meu Pé de Laranja Lima”, livro de José Mauro de Vasconcelos que já foi adaptado para o cinema em 1970 e 2012, a figura do pai transmite medo, porque desobedecê-lo significa castigo, inclusive físico. Mas, claro, Beto não desiste de seu objetivo, mesmo passando por vários apuros. Até que um olheiro de um time da várzea o descobre e o convida para um teste, que ele comparece após enfrentar seu pai.
O filme usa essa linha temática como centro da história, mas enfatiza fortemente as caracterizações da época, criando um clima nostálgico que representa o principal encanto da película, principalmente para quem viveu o período retratado nele. A cenografia cumpre com eficiência seu papel, e consegue uma reconstituição de época genuinamente fiel. A trilha sonora selecionada inclui canções marcantes daqueles anos e é também essencial para essa viagem no tempo. Assim, roteiro, cenografia e música agradam o público que procura resgatar memórias do tempo que passou.
Sem os clichês hollywoodianos
Autor do livro que deu origem ao filme, o co-roteirista Márcio Américo evita o clichê hollywoodiano das histórias que possuem o esporte na trama. Então, não há aquela tensão crescente que desemboca no jogo final onde o protagonista triunfa. É verdade que o menino Beto consegue um teste no time de futebol profissional, mas esse não representa o final de “Meninos de Kichute”. Existe até um jogo importante, um “contra” do time de Beto enfrentando outra equipe do bairro, marcando uma virada na vida do garoto. Nessa sequência, há um recurso estilístico que poderia ter sido dispensado, a câmera lenta quando o time de Beto chega ao campinho de futebol, pois dá uma dimensão exagerada para o jogo, que quando começa não demonstra uma rivalidade à altura dessa introdução.
A parte final do filme estraga o clima de nostalgia e, também, a empatia que o personagem conquistou. Talvez empolgado em utilizar a canção “Marcas do que se foi” (The Fevers), que marcou época e que retrata bem essa nostalgia, o diretor Luca Amberg insere imagens da turminha de meninos saindo para caminhar e nadar num rio, e, ao retornar, Beto encontra sua família de mudança, com a casa vazia e os móveis carregados em um caminhão. É impossível crer que ele, tão apegado à família, não saberia que naquele dia se mudariam. E todos partem para a nova casa, sem concluir a história sobre a possível carreira do menino como goleiro, frustrando o público.
“Menios de Kichute”, assim, é um belo exercício de nostalgia, com enredo envolvente, porém mal concluído.
Ficha técnica:
Meninos de Kichute | 2009 | Brasil | 98 min | Direção: Luca Amberg | Roteiro: Luca Amberg, Márcio Américo | Elenco: Lucas Alexandre, Werner Schünemann, Vivane Pasmanter, Arlete Salles, Paulo César Pereio, Mário Bortolotto, Luthero de Almeida, Ester Laccava.