Meu Casulo de Drywall, filme da diretora Caroline Fioratti, se passa num condomínio de luxo. Na sua festa de aniversário de 17 anos, Virgínia (Bella Piero) se suicida. O que aconteceu durante o evento e os efeitos da tragédia nas pessoas que conheciam a vítima se entrelaçam, em alternadas sequências fragmentadas.
Alguns se sentem culpados (ou são acusados disso) pela morte da garota. A mãe (Maria Luisa Mendonça) lamenta ter atendido o pedido dela de deixar somente os jovens na festa. A melhor amiga (Mari Oliveira) se arrepende da briga com Virgínia, que lhe disse que não poderia ir para Florianópolis morar com ela. Os garotos, um deles o namorado (Michel Josias) e o outro um rebelde, agem de maneira suspeita.
O enredo não pretende explicitar o motivo do suicídio, embora provoque essa expectativa. No lugar disso, prefere escancarar as dores que os personagens adolescentes carregam. Até via surrealismo, nas feridas abertas em seus corpos, ou nos ferimentos que provocam em si mesmos. Um deles, em certo trecho, abre sua camisa e mostra seus machucados para o pai, que se recusa a vê-los. As causas são diversas: a amiga sente que não faz parte daquela comunidade branca e rica, porque é a única garota negra do condomínio; o namorado transa com funcionários do local; o menino rebelde não aceita a existência de câmeras de vigilância, entre outras coisas que o revoltam.
O casulo artificial
Soma-se a esse quadro, como o título provoca, o ambiente onde a trama se desenrola. Um condomínio de luxo – “que tem tudo”, como comenta uma das personagens – que mais parece um resort, como um oásis protegido em meio à violência e à pobreza da grande cidade. O filme revela que esse casulo artificial e frágil (como o gesso) não protege quem está lá dentro dos problemas universais. Aliás, talvez até os agrave. Como sinal disso, há uma reduzida quantidade de personagens no enredo, indicando que o cenário privilegiado não resulta necessariamente em um elo entre as pessoas. A aniversariante Virgínia tem poucos amigos e muitos deles não são companhias saudáveis. Sua melhor amiga, por exemplo, se preocupa mais com suas interações virtuais nas redes sociais do que com as pessoas ao seu redor.
A direção de Caroline Fioratti, também autora do roteiro, caminha pela ousadia (a melhor delas a analogia das feridas expostas) e os recursos batidos (o vômito como expressão do nervosismo, os diálogos extensos). Mas, a melhor sequência de seu filme está no meio da novidade e do convencional: a dança a três, filmada com cores fortes, planos curtos alternando a velocidade dos quadros, música forte e fusões, cortando no fim para o contraste da melancolia desesperada da protagonista. Um momento sensorial, como se costumou chamar. Resume, enfim, o que esperar de Meu Casulo de Drywall, sensações no lugar de explicações.
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Ficha técnica:
Meu Casulo de Drywall | 2023 | 115 min. | Brasil | Direção: Caroline Fioratti | Roteiro: Caroline Fioratti | Elenco: Maria Luisa Mendonça, Bella Piero, Michel Joelsas, Mari Oliveira, Daniel Botelho, Caco Ciocler, Débora Duboc, Flávia Garrafa, Marat Descartes, Lena Roque.
Distribuição: Gullane.
Estreia nos cinemas programada para 12 de setembro de 2024.