Meu Novo Brinquedo (Le Nouveau Jouet) é previsível. Mesmo quem não viu o filme original, Le Jouet (1976), escrito e dirigido por Francis Veber, ou sua refilmagem O Brinquedo (The Toy, 1982), de Richard Donner, sabe muito bem o que acontecerá com seus três protagonistas. Isso só não aconteceria se fosse o caso de uma sátira amoral. Mas o diretor James Huth não tem a pretensão de sair da linha.
Philippe Étienne (Daniel Auteuil), um dos homens mais ricos da França, está com dificuldades para lidar com seu filho Alex (Simon Faliu), depois que ele perdeu a mãe. Então, para contornar o problema, ele faz tudo o que o menino quer. Até mesmo lhe dá de presente de aniversário de 11 anos o brinquedo que ele deseja: Sami Cherif (Jamel Debbouze). Atolado em dívidas e com a mulher prestes a dar à luz, ele aceita esse trabalho humilhante.
O ator Jamel Debbouze traz à tona o que Richard Pryor (ator da versão americana), Jerry Lewis ou o brasileiro Golias traria para o papel. Ou seja, aquele humor físico, pastelão, às vezes infantil e ingênuo. E, no aspecto social, além da pobreza, o fato de ser um imigrante (ou descendente de). Tudo isso junto faz o espectador sofrer pelos maus tratos que lhe aplica o segurança brutamontes de Étienne, bem como os abusos vindos do garoto mimado.
Uma lição de respeito
Assim, diante desse quadro, não teria como o filme sustentar uma conclusão diferente da redenção de Étienne e de Alex a partir do personagem mais humilde. O importante é que o diretor James Huth faz isso bem. Começa exagerando na diferenciação entre Sami e os Étiennes. Tudo em Sami é exageradamente colorido e barulhento. Em seu apartamento pintado de amarelo, ele (também de amarelo) conversa em voz alta com a esposa, e os vizinhos gritam de volta lá de seus apartamentos. A câmera se movimenta bastante, os planos são curtos, dando a sensação de uma aceleração descabida. Em paralelo, o bilionário almoça com seu filho numa mesa enorme, num ambiente calmo e silencioso, tomado por cores escuras.
À medida que a trama se desenrola, esse recurso caricatural desaparece. Os personagens ganham força e possibilitam a empatia por parte do público. Logo, não importa que roupa usem, ou onde estejam, suas diferenças estão evidentes. Na parte final, esses contrastes diminuem, pois os protagonistas são humanizados. Samir não é santo, comete erros. Étienne não é vilão, apenas endureceu demais por causa do trabalho. Já o menino enfrenta um trauma pela doença da mãe.
Assim, embora Meu Novo Brinquedo sempre dê a impressão de que já vimos essa história antes, o filme funciona dentro de sua proposta de levantar questionamentos ao capitalismo, ao respeito e à empatia. Sempre num tom divertido, apesar de resvalar num humor inadequado na parte inicial do enredo. Mas vale como uma lição para todas as idades, principalmente nesses tempos em que as pessoas estão perdendo sua humanidade.
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Ficha técnica:
Meu Novo Brinquedo | Le Nouveau Jouet | 2022 | França | 112 min | Direção: James Huth | Roteiro: Jamel Debbouze, Mohamed Hamidi, James Huth, Sonja Shillito | Elenco: Jamel Debbouze, Daniel Auteuil, Simon Faliu, Alice Belaïdi, Anna Cervinka, Aton, Laurent Saint-Gérard, Salim Kissari, Lucia Sanchez, Dorylia Calmel, Redouanne Harjane, Gilles Cohen.
Distribuição: A2 Filmes.
O filme está na programação do Festival Varilux 2023.
Assista ao trailer aqui.