Terceiro longa-metragem do diretor polonês Lukasz Grzegorzek, Minha Vida Perfeita (2021) ameaça ser um daqueles filmes europeus ousados e provocadores, como o romeno Má Sorte No Sexo Ou Pornô Amador (2021). Porém, essa intenção, se existia, não avança nessa direção, e se perde em meio a personagens e subtemas demasiadamente numerosos.
A lembrança desse filme romeno vem à tona porque Minha Vida Perfeita também conta com uma protagonista professora que lida com a exposição de um vídeo particular íntimo. Aqui, essa não representa a linha narrativa principal, mas apenas uma das pontas da caótica vida imperfeita de Joanna. Sua família disfuncional vive toda sob o mesmo teto. Além dela própria (que também contribui para esse caos), moram num pequeno apartamento sua mãe, seu marido, seu filho mais novo, e seu filho mais velho, com a esposa e o bebê.
Nem no trabalho ela consegue se afastar desse ambiente, pois o marido é o diretor da escola onde ela leciona, e seu filho é seu aluno. Seu refúgio é o apartamento da mãe, que está vazio, e que ela utiliza para dar aulas particulares… e para fumar maconha. Logo, mais um complicador entra no esquema, pois ela começa um caso com um colega professor. De repente, ela começa a receber envelopes anônimos com ameaças, que podem culminar na exposição pública do vídeo com o amante que estava no celular de Joanna.
Personagens desagradáveis
A história desfila personagens desagradáveis, inclusive a própria protagonista, apesar de uma clara tentativa de mostrá-la como vítima. Mas, Joanna revela intransigência por não ceder o apartamento da mãe para a família do filho mais velho, o que aliviaria o espaço compartilhado a tapas em sua casa. E, como ela, todos os outros familiares revelam atitudes egoístas. O marido só pensa em manter o emprego. Enquanto isso, o filho mais novo passa o tempo todo gravando vídeos de ASMR para a internet, sem se dedicar aos estudos. Já a família do filho mais velho insiste em se mudar para o apartamento vazio. Por fim, o bebê não para de chorar e a avó sofre de Alzheimer.
Várias situações, igualmente desanimadoras para os personagens, retratam esse cenário em que as pessoas parecem não mais se importar com os outros. Enquanto isso, o filme mantém o suspense: quem está mandando as mensagens ameaçadoras a Joanna?
A direção de Lukasz Grzegorzek torna o filme ainda mais difícil de agradar. Sem a devida atenção aos fundamentos da gramática cinematográfica, deixa algumas cenas desnecessariamente confusas. Por exemplo, ao mostrar de longe as fotos comprometedoras que Joanna encontra no envelope, sem deixar claro que ela está nelas. Da mesma forma, quando a médica diz que a doença cerebral está se agravando e não indica visualmente que ela se refere à mãe de Joanna.
Spoilers adiante
Na conclusão, descobrimos que o filho mais novo estava por trás das mensagens – mas, sem deixar claro seus motivos. Então, temos uma insólita cena que contradiz tudo o que vimos até o momento. Toda a roupa suja já se encontra à vista de todos, expostos a partir da traição de Joanna, finalmente revelada. Então, em uma catarse, todos os membros da família se reúnem para chorarem juntos abraçados, como se, por fim, se solidarizassem na desgraça. Apenas o marido fica de fora, observando. Logo, chega também o amante, e o final aberto parece indicar que ele, igualmente disfuncional, também tem lugar nessa família. Talvez, até, substituindo o marido. Este se isola, provavelmente junto com o espectador, que não consegue se envolver nessa trama.
___________________________________________
Ficha técnica:
Minha Vida Perfeita | Moje wspaniale zycie | 2021 | Polônia | 99 min | Direção e roteiro: Lukasz Grzegorzek | Elenco: Agata Buzek, Jacek Braciak, Adam Woronowicz, Malgorzata Zajaczkowska, Pawel Kruszelnicki, Jakub Zajac, Wiktoria Wolanska, Leon Grzegorzek, Karolina Bruchnicka, Julia Kuzka.
Distribuição: Netflix.