Francês, com descendência portuguesa, o ator Ruben Alves dirige aqui seu segundo longa. Miss França possui bons e maus momentos. Acerta quando assume a bandeira que defende com seu tema principal: a defesa da liberdade de gênero. Mas sua narrativa é previsível.
Aos 24 anos, o órfão Alex Dufresnoy (Alexandre Wetter) resolve buscar seu sonho de infância: ser a Miss França. Para isso, conta com o apoio dos cinco moradores da pensão da Srª Yolande, onde ele mora, esforçando-se para pagar o aluguel mensal. O cenário é acolhedor, todo colorido e repleto de objetos. Como perceberemos, essa pequena comunidade se transforma na nova família de Alex. Adicionalmente, esses personagens levantam outras bandeiras: quatro são imigrantes, uma é travesti e prostituta e a senhoria é idosa. A interação entre todos, o vínculo fraternal, criam momentos dramáticos e cômicos, que representam algumas das melhores cenas do longa.
Por outro lado, a escalada dentro da competição de misses não consegue fugir da batida fórmula do improvável candidato que consegue superar as suas dificuldades. O filme chega ao cúmulo de introduzir o clichê da preparação no estilo Rocky: Um Lutador (1976), ou seja, uma montagem com Alex se dedicando a treinos de todos os tipos (inclusive de boxe com seu amigo de infância).
O que não funciona
Embora a principal transformação do protagonista seja a de conhecer a si mesmo, e, finalmente, se sentir confortável e feliz ao ser visto como uma mulher, a trama se desvia com outros conflitos. Por exemplo, ele se torna tão focado no concurso que resolve evitar a amiga travesti quando uma reportagem televisiva quer entrevistar sua família. Alex está preocupado que as pessoas podem não gostar dela e isso pode lhe custar votos. Além disso, outra subtrama já vista muitas vezes é a da concorrente Miss PACA (vivida por Stéfi Celma da série Dix Pour Cent) que a quer prejudicar e depois vira sua amiga.
E Ruben Alves deixa transparecer sua inexperiência na direção em um erro crasso. É quando Miss PACA espia pelo buraco da fechadura do banheiro e vê Alex em uma situação que a faz pensar que ele está se drogando. Então, ela retorna para a cama. Mas, para mostrar para o espectador o que realmente Alex fazia, o enquadramento continua o mesmo da espiada pela fechadura, até mesmo com as bordas escurecidas. Dessa forma, o descuido faz parecer que alguém continua espionando o protagonista.
Mensagem a reforçar
Contudo, Miss França se salva por duas cenas verdadeiramente tocantes. A primeira é quando Alex fala para o apresentador do concurso regional, de Île-de-France, e o destrói por causa do machismo. E, faz um belo discurso em prol do empoderamento feminino. Já a outra cena emocionante vemos na última etapa do concurso nacional. Alex se despe do que é artificial, e continua feminina.
De quebra, o filme ainda tira sarro da Bélgica, apresentando o seu litoral como o destino indesejado das misses.
Enfim, a força de Miss França não está na sua originalidade, mas na sua mensagem que ainda necessita ser insistentemente reforçada.
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Ficha técnica:
Miss França | Miss | 2020 | 107 min | França, Bélgica | Direção: Ruben Alves | Roteiro: Ruben Alves, Elodie Namer | Elenco: Alexandre Wetter, Isabelle Nanty, Pascale Arbillo, Thibault de Montalembert, Stéfi Celma, Quentin Faure, Amanda Lear, Ruchi Ranjan.
Distribuição: Pandora Filmes.
Gostou? Então, aguarde: o filme estreia dia 12 de maio de 2022 nos cinemas.