Quem poderia substituir o gênio Brian De Palma que dirigiu o primeiro Missão: Impossível (1996) em sua sequência? Foi certeira a escolha de John Woo, cineasta chinês que já provara seu valor em Hollywood com A Outra Face (1997). Assim como De Palma, Woo consegue inserir sua marca autoral mesmo numa superprodução desse calibre. Na verdade, até com mais facilidade que seu colega estadunidense, por ser um especialista no gênero ação.
A missão
Em Missão: Impossível 2, o proprietário de uma farmacêutica cria um vírus letal chamado Quimera para espalhá-lo e depois lucrar com a venda de seu antídoto. Mas, o antídoto foi roubado por Sean Ambrose (Dougray Scott), um ex-agente do IMF (Impossible Mission Force). Então, o espião Ethan Hunt (Tom Cruise), antigo rival de Ambrose, recebe a missão de impedir esse plano maquiavélico. Mas, antes de viajar para a Austrália, onde o laboratório se encontra, precisa embarcar para Sevilha e iniciar um perigoso jogo de sedução para recrutar a habilidosa ladra Nya Hall (Thandie Newton). Cumprida essa fase, ele se junta ao antigo parceiro Luther (Ving Rhames) e ao novo colega William Baird (John Polson).
Nya já teve um caso com Ambrose, por isso recebe a incumbência de se reaproximar dele para descobrir informações sobre a Quimera e o antídoto. Com esses dados, Ethan e sua equipe tentam destruir o vírus da doença no laboratório, para que, assim, o antídoto não tenha mais nenhuma serventia. Porém, Ambrose chega para impedi-lo, e Ethan precisará, então, partir em busca do antídoto nas instalações de Ambrose para salvar Nya, que está infectada.
O toque de John Woo
O cinema de John Woo se sobressai nas muitas cenas de ação do filme. Duas delas trazem perseguições em veículos. A primeira, numa estrada tortuosa nas montanhas espanholas, enquanto Ethan tenta se aproximar de Nya. A segunda, já na parte final, é uma eletrizante perseguição com o protagonista em uma moto, com direito a uma enorme quantidade de explosões (presentes em todo o filme). Aliás, a partir do momento em que Ethan sobe na moto, o filme inicia uma sequência de tirar o fôlego, das melhores que o cinema americano já produziu, e que culmina no melhor estilo John Woo, com uma luta corpo a corpo entre o herói e o vilão, com direito a muita câmera lenta (outro recurso que se espalha por todo o longa) e golpes de artes marciais.
Mas, Missão: Impossível 2 se enfraquece na parte central de sua trama. A sequência em que Ethan Hunt invade o laboratório para destruir o vírus pede mais suspense do que ação e, nesse quesito, Brian De Palma, por ser especialista nesse gênero, conseguiu um resultado muito melhor (vide a inesquecível cena em que o espião desce pendurado num cabo, repetida com menos impacto aqui). Por outro lado, se destaca no filme de John Woo a ideia de o vilão Ambrose prever e narrar de longe o que Ethan está fazendo, pois já conhece tão bem o seu rival. Dessa forma original, ele explica o plano do herói, sem que seja necessário recorrer a uma cena chata de apresentação da estratégia.
Do autorismo ao cinemão
Oferecendo-se como uma alternativa aos filmes de James Bond na fase Pierce Brosnan, a franquia Missão: Impossível representou o ponto alto das carreiras de Brian De Palma e John Woo em termos de bilheteria. Ainda que limitados em relação aos seus autorismos, os dois cineastas provaram que conseguem realizar o cinemão mais popular.
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Ficha técnica:
Missão: Impossível 2 | Mission: Impossible II | 2000 | 123 min. | EUA, Alemanha, Austrália | Direção: John Woo | Roteiro: Robert Towne | Elenco: Tom Cruise, Dougray Scott, Thandie Newton, Ving Rhames, Richard Roxburgh, John Polson, Brendan Gleeson, Rade Serbedzija, Anthony Hopkins.