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Mommy (filme)
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Mommy | Por Solange Peirão

Avaliação:
7/10

7/10

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Crítica | Ficha técnica

Lembrei-me de Xavier Dolan por seu papel destacado como ator em Ilusões Perdidas (Ilusions Perdues, 2021), presente na programação do Festival Varilux de Cinema Francês (entre 25 de novembro a 8 de dezembro de 2021). Seu filme Mommy foi o filme escolhido pelo Júri Popular do Festival de Cannes de 2014. Trata da convivência cotidiana entre mãe e filho, abalados pela morte recente do pai e em situação de falência.

Mas, o centro das questões está definido pelo enfrentamento das ações violentas, frutos da doença, e que acorrentam o jovem. O filme joga com o dilema dessa mãe, entre manter em casa o filho, salvando-o pelo afeto, ou entregá-lo às instituições que tratam do distúrbio com medicação e camisa de força.

A excelência do filme está basicamente na concisão. São situações banais do cotidiano, que privilegiam os corpos se enfrentando, exprimindo as emoções exacerbadas com diálogos enxutos, e o silêncio que dá conta da amargura.

A iluminação e os enquadramentos ressaltam as angústias dessas almas. Porém, o recurso mais poderoso é mesmo a escolha da tela reduzida, fechada em quadrado (formato 1:1), para exacerbar as aflições. Além disso, é verdadeiramente bela a abertura do foco nos raros momentos de equilíbrio emocional e libertação das personagens.

Na verdade, estamos a falar de um trio, pois o filme tem o contraponto de uma terceira personagem. É uma vizinha que leva uma vidinha “normal”, que se deu um ano sabático, para se recuperar de uma depressão. Afinal, quem não?

Interessante sua integração no contexto, pois sua síndrome se expressa pelo travamento da língua, tal qual os gagos. As emoções estão contidas, bloqueadas. E só se soltam com os vizinhos, que vivem e expõem doenças, neuroses, medos, coragem, felicidades fortuitas. E esperança, como exprime a mãe do jovem que, ao final, tomou a atitude aparentemente definitiva. Só aparentemente.

Nota divertida: o diretor declarou que fez Mommy como expressão de vingança da mãe, depois de seu aplaudido filme de estreia Eu Matei minha Mãe (J’ai tué ma mère, 2009), que Dolan realizou quando tinha apenas 19 anos.

Eduardo Coutinho

Eduardo Coutinho, o principal documentarista brasileiro, morreu em 2014 assassinado pelo filho, portador de doença mental. Nesse mesmo ano, Xavier Dolan, jovem diretor/ator canadense, lançou o filme Mommy, que trata da relação entre um filho adolescente, acometido pelo TDAH, e sua mãe. Lembrei-me de ambos, pela tragédia que acometeu ao primeiro, e pelo tema semelhante que o segundo tratou em ficção.

Eduardo Coutinho é um dos nossos grandes do cinema brasileiro, na categoria documentário. Mas, em seu filme Jogo de Cena (2007), vem sugerir que as categorias podem, por vezes, se embaralhar, porque o jogo lida, na verdade, com os limites da realidade e da ficção.

De que forma magistral Coutinho aborda esse aspecto? Bisando o discurso. Isso mesmo, ao repetir um relato de uma mulher desconhecida por uma atriz (curiosamente, só mulheres). E o bonito é que Coutinho intercala as falas para gerar a força da dúvida: ora se inicia com o discurso real, ora com o discurso encenado.

Ah, e as entrevistas ocorrem num palco de teatro! Jogo de cena, verdadeiramente belo. Coisa de mestre.

Texto de autoria de Solange Peirão, historiadora e diretora da Solar Pesquisas de História.


Mommy (filme)
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