Não espere muito da comédia juvenil Morando com o Crush. Produção industrial padronizada, dirigida pelo prolífico Hsu Chien, traz um amontoado de situações que atrapalham a narrativa central que, em sua essência, é intrigante. Resume-se no seguinte cenário: uma adolescente vai morar na mesma casa que seu crush de anos porque seus pais estão namorando.
A menina é Luana, interpretada por Giulia Benite, que viveu a Mônica nas recentes adaptações dos quadrinhos de Mauricio de Souza. O pai dela, Fábio (Marcos Pasquim) a cria sozinha depois da morte da mãe. Por outro lado, o crush é Hugo (Vitor Figueiredo), cuja mãe divorciada, Antônia (Carina Sacchelli), trabalha e namora com Fábio.
Todos acabam sob o mesmo teto quando a empresa transfere Fábio e Antônia para uma pequena cidade no Rio Grande do Sul. Logo que chegam, todos pensam que Luana e Hugo são irmãos, e estes não desmentem, pois assim conseguem uma vaga na escola do município. Assim, enquanto os dois adolescentes tentam engatar um namoro, precisam ao mesmo tempo esconder essa mentira. A ameaça principal vem da casa da frente, onde a teen Priscilla (Júlia Olliver), com a perna engessada, passa o tempo observando os vizinhos, e desconfia dessa relação dos irmãos.
Essa história bacana termina bem também, com reações sensatas diante da verdade. De fato, a única inconformada é Priscilla, que meio que torcia para descobrir um escandaloso caso de incesto. A condução desse enredo, porém, está repleta de ruídos. No geral, porque as situações cômicas atropelam a narrativa, na ânsia de não perder a piada.
Ruídos na narrativa
Entre essas situações deslocadas, encontram-se as atrapalhadas tentativas de Fábio fazer pequenos reparos na casa. O resultado é pastelão puro. Colado a isso, vem a participação do humorista Ed Gama, no papel de Cledir, o conserta tudo. Engraçado por natureza, mas precisaria ter uma aparição mais pontual – como juiz de paz ele já não emplaca todas suas piadas. A cena do casamento, por sinal, não funciona, pois a revelação deveria acontecer em outro momento anterior. Como está, surge a imediata contestação na mente do público: se estão se casando, é óbvio que os filhos não eram necessariamente irmãos.
Poucas situações conseguem ser engraçadas. Mas podem funcionar para o público pré-adolescente, como a irmãzinha de Priscilla se vestindo de pequena espiã para entrar na casa de Luana à noite. Já a ideia de criar uma diferença radical no hábito alimentar de Fábio e Antônia só acentua a pouca química desse casal.
Morando com o Crush tinha potencial de ser uma comédia romântica cativante, sustentada por uma boa premissa, sem precisar cair nas situações forçadas para contar piadinhas de quinta série. No lugar delas, inserções dramáticas despertariam maior emoção no romance adolescente.
___________________________________________
Ficha técnica de “Morando com o Crush”:
Morando com o Crush | 2024 | Brasil | 90 min | Direção: Hsu Chien | Roteiro: Sylvio Gonçalves | Elenco: Giulia Benite, Vitor Figueiredo, Marcos Pasquim, Carina Sacchelli, Júlia Olliver, Ryancarlos de Oliveira, Juliana Alves, Amaurih Oliveira, Ed Gama, Sara Alves, Luísa Bastos, Alice Baltezam, Jenifer Ramos, Narjara Turetta, Edu Mendas, Mariana Catalane, Laura Tietz, Yonara Karam, Manuela Freitas, Diego de Lima.
Distribuição: Paris Filmes.
Assista ao trailer aqui.