Morgue Story: Sangue, Baiacu e Quadrinhos adapta para as telas a peça de teatro do diretor e roteirista Paulo Biscaia Filho encenada pelo seu grupo Vigor Mortis. E a trupe teatral participa da produção, inclusive o elenco.
A história (do necrotério)
Na trama, um médico legista se aproveita de seu emprego em um necrotério para colocar em prática uma fórmula vodu. Esse conhecimento ele adquiriu quando esteve numa campanha no Haiti. E seu ingrediente principal é o veneno do baiacu. Ao ser aplicado, o produto causa uma suspensão da vida similar à morte. Assim, esse Dr. Daniel Torres envenena suas vítimas, mulheres bonitas, para que ele possa estuprá-las quando são levadas ao necrotério. Um de seus novos alvos é a criadora de uma graphic novel. Porém, a chegada de um vendedor de seguros catatônico atrapalha os planos do sinistro doutor.
Análise do filme
Morgue Story apresenta um visual moderno, com muitos recursos gráficos, uso frequente de tela dividida, cortes rápidos e fotografia com tons cinza-esverdeados que comunicam o clima mórbido do filme. Adicionalmente, há muitos planos com ângulos inusitados. E, claro, muito sangue.
Porém, Morgue Story caminha em direção ao humor, ao invés de investir no suspense, que soa tímido. Nesse sentido, os clichês do gênero estão aqui com essa finalidade, tanto no cenário (em especial o necrotério) como nas situações (destaque para o ritual vodu). Inclusive, até na caracterização do médico, que se parece muito com o Dr. Herbert West interpretado por Jeffrey Combs em A Hora dos Mortos-Vivos (Re-Animator, 1985).
O visual bem construído, no entanto, não consegue sustentar a trama simples demais. Por isso, alguns flashbacks do vilão recheiam a estória para tentar lhe dar mais conteúdo. Contudo, o que mais faz falta é a construção da personagem Ana Argento, a criadora de HQs, e o desenvolvimento da situação que a colocará em perigo.
Por outro lado, o humor nas falas nem sempre funciona. A origem teatral evidencia a falta de um retorno da reação do público. Talvez a plateia do cinema supra isso, mas em home vídeo essa carência é inevitável.
Em suma, Morgue Story começa bem, com uma linguagem visual original bem realizada. Mas a partir da sua metade, a fraqueza da trama começa a pesar, e os diálogos teatrais perdem sua capacidade de provocar risos. Mesmo assim, é um filme diferenciado que merece uma visita por aqueles que apreciam filmes que misturam horror com comédia, como Uma Noite Alucinante 2 (Evil Dead II, 1987), mencionado no longa.
Ficha técnica:
Morgue Story: Sangue, Baiacu e Quadrinhos (Morgue Story: Sangue, Baiacu e Quadrinhos. 2009) Brasil. 78 min. Dir/Rot: Paulo Biscaia Filho. Elenco: Leandro Daniel, Mariana Zanette, Anderson Faganello, Cléber Borges, Edson Bueno, Wagner Corrêa, Carolina Fauquemont, Rafaella Marques.