Racismo ambiental, pós-colonialismo, povos indígenas e questões econômicas presentes e futuras são os temas principais da Mostra Ecofalante 2023. A 12ª edição do festival acontece gratuitamente entre 1 e 14 de junho, em 39 espaços culturais de São Paulo.
101 Filmes
A mostra exibe 101 filmes neste ano.
A sessão de abertura, exclusiva para convidados, apresenta o longa Nação Lakota Contra os EUA (2022), de Jesse Short Bull e Laura Tomaselli. A obra utiliza rico material de arquivo e entrevistas íntimas com ativistas veteranos e jovens líderes. Exibido nos festivais de Tribeca, Cleveland e Denver, o filme tem entre seus produtores executivos os atores Marisa Tomei e Mark Ruffalo.
No Panorama Internacional Contemporâneo, com 27 filmes de 26 países, destaca-se uma seleção de títulos que abordam sobretudo questões ligadas ao racismo. Mas que também não deixam de falar do legado do colonialismo e suas muitas consequências socioambientais presentes até os dias de hoje.
Assim, Filhos do Katrina, discute racismo ambiental a partir das consequências do furacão Katrina. Duas Vezes Colonizada fala sobre o ativismo de uma defensora dos direitos humanos inuíte no parlamento europeu. Uma História de Ossos, sobre a luta de uma consultora africana para dar um fim digno aos restos mortais de mais de oito mil ‘africanos libertos’ descobertos durante a construção de um aeroporto na remota ilha de Santa Helena.
Filmes sobre a Economia
O filme mais recente de Gabriela Cowperthwaite, A Apropriação, revela os esforços secretos de governos e multinacionais para controlar comida e água no mundo. Já a produção francesa Amor e Luta em Tempos de Capitalismo retrata os sociólogos Monique Pinçon-Charlot e Michel Pinçon no movimento dos Coletes Amarelos.
Sobrinha-neta de Walt Disney e herdeira da The Walt Disney Company, Abigail Disney é documentarista e ativista social. Em O Sonho Americano e Outros Contos de Fadas, codirigido por Kathleen Hughes, ela aborda a profunda crise de desigualdade nos Estados Unidos. Para isso, usa o legado de sua família como um estudo de caso para explorar criticamente a intersecção entre racismo, poder corporativo e o sonho americano.
Em O Retorno da Inflação, de Matthias Heeder, discute-se os mecanismos que contribuíram para o retorno da inflação que atualmente atinge o mundo com força total. A Máquina do Petróleo, filme britânico de Emma Davies, toma o exemplo da óleo-dependência do Reino Unido para falar sobre como as principais economias contemporâneas se apoiam sobre a indústria do petróleo. E Deep Rising: A Última Fronteira revela as intrigas em torno da obtenção de recursos naturais no solo dos oceanos.
Estreias de produções nacionais
Uma programação é dedicada às estreias mundiais em salas de cinema de três títulos brasileiros. Os filmes abordam o embate entre indígenas e garimpeiros, queimadas em quatro biomas do país e deslocamento de toda uma população.
Cinzas da Floresta, de André D’Elia, registra uma expedição com o ativista Mundano que percorreu mais de dez mil quilômetros por quatro grandes biomas: Amazônia, Cerrado, Pantanal e Mata Atlântica. Seu objetivo: produzir uma cartela em tons de cinza a partir do carvão e das cinzas de restos de árvores e de animais carbonizados.
Escute, A Terra Foi Rasgada, de Fred Rahal Mauro e Cassandra Mello, registra o acampamento Luta pela Vida, em Brasília. Dessa forma, mostra como as lideranças dos povos Mebêngôkre (Kayapó), Munduruku e Yanomami se uniram para escrever uma carta-manifesto em repúdio à atividade garimpeira. Na sessão da 12ª Mostra Ecofalante de Cinema, estarão presentes as lideranças indígenas da “Aliança em Defesa dos Territórios.
Por fim, Parceiros da Floresta, de Fred Rahal Mauro, percorre três continentes evidenciando casos de parcerias entre setores privado, público e comunidades locais que geram soluções para a proteção e restauração de florestas tropicais globais.
Mostra Histórica
A Mostra Histórica “Fraturas (pós-)coloniais e as Lutas do Plantationoceno” exibe clássicos da cinematografia militante do período das décadas de 1960 a 1980 que refletem sobre as marcas do colonialismo nos diversos territórios, sobretudo do sul global. É o caso de A Batalha de Argel (1966), de Gillo Pontecorvo, que a mostra exibe em versão restaurada em 4K pela Cinemateca de Bolonha e Instituto Luce Cinecittà.
Por outro lado, a aculturação de uma minoria mexicana inspirou o cineasta Paul Leduc a realizar Etnocídio. Aliás, não poderia faltar o marco do documentarismo brasileiro e referência mundial Cabra Marcado para Morrer, de Eduardo Coutinho, nesta seção. Emitaï traz as marcas do cinema político de seu diretor, o senegalês Ousmane Sembène, um dos pioneiros do cinema africano.
Três filmes dirigidos por mulheres e restaurados pelo Instituto Arsenal, de Berlim, também fazem parte do programa. Assim, Eu, Sua Mãe (1980), de Safi Faye; Nossa Voz de Terra, Memória e Futuro (1982), de Marta Rodríguez e Jorge Silva, e A Zerda e os Cantos do Esquecimento (1982), de Assia Djebar, chegam às telas da mostra.
Recém-restaurada pelo Harvard Film Archive, I Heard It through the Grapevine (1981), documentário de Dick Fontaine estrelado por James Baldwin, faz um balanço das lutas pelos direitos civis e melhora das condições de vida das comunidades negras em seu país.
Povos indígenas
Temáticas relativas aos povos indígenas e seus territórios marcam as produções selecionadas para a Competição Latino-americana.
Destaca-se A Invenção do Outro, de Bruno Jorge, que narra uma jornada na Amazônia para tentar encontrar e estabelecer o primeiro contato com um grupo de indígenas isolados da etnia dos Korubo.
O diretor Jorge Bodanzky assina Amazônia, A Nova Minamata?, no qual acompanha a saga do povo Munduruku para conter o impacto destrutivo do garimpo de ouro em seu território ancestral. Enquanto isso, revela como a doença de Minamata, decorrente da contaminação por mercúrio, ameaça os habitantes de toda a Amazônia hoje.
No inédito Mamá, o realizador de descendência maia Xun Sero relata como, sendo mexicano tzotzil, cresceu cercado pela sacralidade da Virgem de Guadalupe e da Mãe Terra. Por fim, o documentário peruano Odisseia Amazônica, de Terje Toomistu, Alvaro Sarmiento e Diego Sarmiento, testemunha o trabalho feito nos barcos que constituem o principal meio de transporte de mercadorias e pessoas no rio Amazonas.
Mas, tem muito mais. Então, confira a programação completa de exibições e demais atividades da 12ª Mostra Ecofalante no site oficial: www.ecofalante.org.br.
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Serviço:
12ª Mostra Ecofalante de Cinema
de 1 a 14 de junho de 2023
gratuito
Locais:
- Espaço Itaú de Cinema – Augusta (Salas 3 e 4) – Rua Augusta 1475, Consolação – São Paulo
- Circuito Spcine Lima Barreto (Centro Cultural São Paulo) – Rua Vergueiro 1000, Paraíso – São Paulo
- Circuito Spcine Olido (Centro Cultural Olido) – Av. São João 473, Centro – São Paulo
- Circuito Spcine Roberto Santos – Rua Cisplatina 505, Ipiranga – São Paulo
- e ainda unidades do Centro Educacional Unificado – CEU, Casas de Cultura, Fábricas de Cultura e Centros Culturais
- Evento viabilizado por meio da Lei de Incentivo à Cultura
Patrocínio: White Martins, Valgroup, Mercado Livre e Spcine.
Apoio: Evonik e da Drogasil.
Apoio institucional: WWF-Brasil, Cinemateca da Embaixada da França no Brasil, Institut Français e Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima.
Produção: Doc & Outras Coisas.
Coprodução: Química Cultural.
Realização: Ecofalante e Ministério da Cultura.