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Mostra Os 100 Anos de Pasolini | De 3 a 17 de agosto de 2022

Os 100 Anos de Pasolini (mostra)

O Instituto Italiano de Cultura e o Sesc São Paulo realizam a mostra “Os 100 Anos de Pasolini”, entre os dias 3 e 17 de agosto. O evento acontece presencialmente na cidade de São Paulo, e a partir do dia 17 terá exibição gratuita de cinco filmes em streaming, para todo o Brasil, na plataforma Sesc Digital.

Além disso, a mostra traz encontros e debates em homenagem ao centenário do cineasta, escritor, intelectual e poeta italiano Pier Paolo Pasolini.

A obra de Pasolini “é definida por uma postura de permanente reflexão e problematização acerca dos postulados estéticos e políticos de seu tempo”, comenta Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc São Paulo.

Para Michele Gialdroni, diretor do Instituto Italiano di Cultura – San Paolo: “Todos têm seu Pasolini, o apocalíptico e o elegíaco, o violento e o delicado, o comunista e o católico, o tradicionalista e o moderníssimo, o clássico e o vanguardista, o intelectual sofisticado e o frequentador das ruas de subúrbio, o filólogo e o cineasta, o poeta e o colunista.”, declara.

Destaques da programação

A mostra exibe o primeiro longa-metragem do diretor, Accattone – Desajuste Social (1961), sobre um cafetão que sobrevive na periferia de Roma, em 1960, graças a duas mulheres: Nannina, sua esposa que cuida de várias crianças, e Madalena, uma prostituta de cujos ganhos ele depende. O filme teve sua estreia no Festival de Veneza do mesmo ano, mas sua recepção foi controversa, o que se tornaria uma constante na carreira do cineasta.

Mamma Roma (1962) traz em sua trama uma prostituta de meia-idade que sonha em mudar de classe social para poder voltar a viver com seu filho adolescente, Ettore. Para isso, faz de tudo para dar uma vida melhor a ele. Aclamada pela crítica, a obra causou furor na opinião pública por ser considerada, supostamente, obscena.

Em uma sessão especial, A Raiva (1963), filme ensaístico de colagem sobre décadas da história mundial, conjugando a prosa e a poesia nos comentários proferidos por dois locutores, terá exibição em 35mm, no CineSesc.

Também integra a mostra A Ricota (1963), episódio do filme coletivo Lamiamoci Il Cervello (RoGoPaG), de Roberto Rossellini, Jean-Luc Godard, Pier Paolo Pasolini e Ugo Gregoretti. Na obra, um figurante de um filme baseado na Paixão de Cristo e rodado na periferia de Roma, alimenta sua numerosa família com a comida do set. Essa obra satírica foi considerada um insulto à religião do Estado e fez com que Pasolini fosse condenado a quatro meses de prisão.

Seu longa seguinte, O Evangelho Segundo São Mateus (1964) é mais um destaque na programação. O filme teve estreia no Festival de Veneza, onde conquistou o prêmio do júri, e foi sucesso de público ao abordar a história de Jesus Cristo, do nascimento à ressurreição, a partir do texto de São Mateus. Mesmo com a boa recepção, Pasolini sofreu duras críticas por parte de intelectuais de esquerda, ainda que ele próprio se autoproclamasse comunista (mesmo tendo sido expulso do partido no fim dos anos 1940 por ser homossexual).

Em Gaviões e Passarinhos (1966), pai e filho caminham por periferias e estradas desertas e encontram um corvo falante, de forte espírito crítico. O pássaro, que tudo viu, tudo leu e tem ideias sobre tudo, insiste em partilhar a sua ciência e a sua concepção do mundo com os dois viajantes, eles próprios ignorantes e insensíveis à sua especulação intelectual. Cristianismo e marxismo aparecem nas falas do corvo, cuja “cultura” se opõe às reações instintivas e “naturais” de seus interlocutores. Visto como uma crítica à crise interna do Partido Comunista, o filme chamou especial atenção no Festival de Cannes à época.

Em Teorema (1968), o cineasta segue discutindo de maneira crítica a sociedade italiana, ao retratar a vida de uma rica família burguesa de Milão que é radicalmente modificada após a chegada de um misterioso visitante que seduz todos da casa, dos filhos ao pai, passando pela mãe e pela empregada.

Em 1967, Pasolini realizou a primeira de uma série de adaptações inspiradas em grandes textos da literatura universal, obras que também integram a programação do centenário do diretor: Édipo Rei (1967), com a famigerada história do rei de Tebas, desde o seu abandono no deserto, até a descoberta do incesto involuntário e a partida para o exílio; Medéia (1969), clássico de amor, traição e vingança; e as adaptações literárias da trilogia da vida: Decameron (1971), Contos de Canterbury (1972) e As Mil e uma Noites (1974).

Lançado postumamente, Salò, ou os 120 Dias de Sodoma (1975), a polêmica adaptação da obra do Marquês de Sade também tem exibição garantida nesta retrospectiva. Nela, o cineasta apresenta sua visão sobre o poder, a sexualidade, o conformismo e a juventude italiana dos anos 1970. O longa foi censurado em diversos países por mostrar explicitamente cenas de violência física, sexual e psicológica.

A programação de “Os 100 anos de Pasolini” ainda exibe documentários dirigidos por Pasolini, alguns deles fruto de pesquisas para filmes que o diretor intencionava realizar. Por exemplo, Anotações para uma Oréstia Africana (1969) e Comícios de Amor (1964), uma enquete sobre sexo, que o diretor realiza entrevistando pessoas nas ruas de diferentes cidades italianas.

Por fim, além dos filmes dirigidos por Pasolini, serão exibidos três filmes extras: A Raiva de Pasolini – Hipótese de Reconstrução da Versão Original do Filme (2008), de Giuseppe Bertolucci, O Jovem Corsário (2022), de Emilio Marresi, e o curta Agnès Varda – Pier Paolo Pasolini – Nova York – 1967, dirigido pela própria Agnès Varda.

Mais informações, ingressos e programação completa em: sescsp.org.br/mostrapasolini

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