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La La Land: Cantando Estações (filme)
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La La Land: Cantando Estações

Avaliação:
8/10

8/10

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Crítica | Ficha técnica

“La La Land: Cantando Estações” embarca na onda nostálgica que tem influenciado as produções hollywoodianas dos últimos anos. Desta vez, resgatando os musicais coloridos de Busby Berkeley e Gene Kelly.

O formato da tela é o tradicional Cinemascope, mais larga que a normal. Mas, esse é apenas um detalhe luxuoso, porque o widescreen já domina o mercado atual. O que chama a atenção logo na introdução antes do título do filme é o primeiro número musical, filmado de forma engenhosa sobre as famosas freeways de Los Angeles. É um plano sequência intrincado envolvendo muita movimentação de câmera e variados figurantes. A cena se encerra com o refrão “another day of summer” contrastando com a legenda que indica que a história se inicia no inverno. Nesse início, acontece o primeiro encontro casual entre Mia (Emma Stone) e Sebastian (Ryan Gosling), quando um xinga o outro em uma discussão no trânsito.

A história se mantém em Mia. Em uma cena que se repetirá no futuro, ela atende uma atriz famosa no café da Warner Brothers Studio. Sendo ela uma aspirante a essa glamorosa profissão, o contato alimenta seus sonhos. Por isso, na casa que divide com outras garotas, a câmera percorre os cômodos como se não houvesse a quarta parede, revelando o estilo maneirista que percorre todo o filme. Então, Mia apresenta a segunda canção de “La La Land”, metade dela também registrada em plano sequência. O uso de montagens ágeis também será uma característica recorrente nesse musical, e neste segmento mostra como é a noitada de Mia.

Narrativa não-linear

A estrutura narrativa de “La La Land: Cantando Estações” foge da linearidade. Assim, quando Mia está prestes a encontrar novamente Sebastian, o filme retoma o momento em que os dois se desentendem na freeway para agora contar como foi o dia dele até então. Sebastian é um talentoso pianista que enfrenta problemas porque não consegue reprimir seu ímpeto de sair tocando um jazz rebuscado, ao invés de se restringir ao repertório pedido pelos donos das casas noturnas.

Surge na tela a palavra “primavera”, indicando a nova estação que abrirá as portas do romance entre os protagonistas. Com isso, surge a oportunidade para o primeiro número musical com os dois juntos cantando e dançando. Muitos se desapontarão com o talento limitado de Emma Stone e Ryan Gosling, cujas vozes não ajudam a levantar a dança. Esta é graciosa, porém, simples demais para quem se habituou a ver Fred Astaire & Ginger Rogers, ou Gene Kelly & Cyd Charisse. Deixando de lado esse aspecto performático, tudo é maravilhosamente filmado.

Já a cena em que Mia entra no cinema atrasada e procura Sebastian ficando de frente para o projetor merece se tornar icônica, tal a emotividade que consegue provocar. O trecho seguinte acontece no Observatório de Los Angeles, destino inteligentemente transportado utilizando o filme “Juventude Transviada” (Rebel Without a Cause, 1955), no qual a paixão entre os dois explode no número musical viajante. O uso do zoom in e depois do fade out para encerrar a sequência remete ao estilo dos filmes antigos.

Estações

O verão aparece no filme com uma montagem com cenas do namoro do casal, passeando por lugares icônicos de Los Angeles, cidade subliminarmente homenageada no título (“L.A.” é a sigla pela qual a capital da Califórnia é conhecida). Animados, os dois se motivam a buscar seus sonhos. Assim, Mia larga seu emprego de barista para escrever um roteiro e atuar no teatro em papel solo. Enquanto isso, Sebastian quer abrir sua própria casa noturna que tocará apenas jazz de qualidade. Para juntar dinheiro para esse fim, ele aceita tocar na banda de Harry (John Legend), que acaba se tornando um sucesso, o que atrapalhará o relacionamento do casal. Em cena visualmente metafórica, Mia é empurrada para trás na plateia enquanto assiste Sebastian e o grupo no palco.

Começa, então, a crise no namoro, justamente quando entra o outono (aliás, “fall”, que em inglês significa a estação do ano, mas também “queda”). Sebastian parece ter deixado seu sonho de ter seu próprio nightclub, contente com o sucesso da sua banda atual. Mia, por outro lado, vê sua estreia fracassar e sua carreira estagnar. Porém, quando já tinha voltado para a casa dos pais, surge uma nova esperança.

“La La Land: Cantando Estações” retoma a história cinco anos depois, quando exibe o que seria na imaginação de Mia a vida dos dois juntos se tudo tivesse dado certo. Mergulhando com tudo na fantasia dos musicais clássicos, como “Sinfonia de Paris” (An American in Paris, 1951), o cenário se torna descaradamente artificial para essa sequência magistral, muito conectada com a narrativa desse momento.

Damien Chazelle

Damien Chazelle comprova em “La La Land: Cantando Estações” que o talento demonstrado em “Whiplash: Em Busca da Perfeição” (Whiplash, 2014), seu segundo longa e o antecedente a este, não era fruto apenas da atuação de J. K. Simmons (que participa desse filme) e Miles Teller. Novamente utilizando o jazz como um dos pontos principais da trama, movimenta muito bem a câmera e utiliza vários enquadramentos distintos em montagens rápidas para contar sua estória. Há, inclusive, uma tomada da mão do baterista iniciando uma música com uma levada no prato que se assemelha muito a “Whiplash”.

Atores cantores

Aliás, justamente o ponto alto desse filme anterior é a fraqueza de “La La Land: Cantando Estações”. A dupla de protagonistas não consegue convencer quando cantam e dançam, ao contrário de Simmons e Teller que soavam autênticos músicos. Apesar de bons atores, e provam isso nas cenas dramáticas, Emma Stone e Ryan Gosling não possuem voz suficiente para assumirem a função de cantores. É o que desaponta, também, em “Todos Dizem Eu Te Amo” (Everyone Says I Love You, 1996) de Woody Allen. É fato que não há tantos atores cantores como na época de Gene Kelly, mas, a escolha poderia ter caído sobre alguns dos que já provaram esse talento, como Anna Kendrick e James Corden, de “Caminhos da Floresta” (Into the Woods, 2014).

A falta dessa aptidão fica evidente em “La La Land: Cantando Estações” quando John Legend, no papel de Charlie, canta à frente da banda em que Sebastian toca. Cantor vencedor de dez Grammys, Legend revela naturalmente que está anos-luz à frente dos seus colegas protagonistas. Ao empostar sua afinada voz, fica evidente sua qualidade superior e escancara o grande pecado de “La La Land”. De fato, uma escolha de elenco mais acertada certamente elevaria este belo filme a um patamar dos grandes musicais de meados do século XX.


La La Land (filme)
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