Munique: No Limite da Guerra (Munich: The Edge of War, 2021) mistura ficção e fatos no ano anterior à Segunda Guerra Mundial. A parte ficcional acompanha a amizade entre Hugh Legat (George MacKay) e Paul von Hartman (Jannis Niewöhner). Como mostra o filme, os dois se formam em Oxford, em 1932, junto com Lenya (Liv Lisa Fries), namorada de Paul e amiga de ambos. Após se separarem porque Paul se torna um nazista radical, eles voltam a se encontrar em 1938, em Munique, durante o encontro entre Hitler, Mussolini, e os primeiros-ministros da França, Deladier, e da Inglaterra, Chamberlain (Jeremy Irons). O encontro realmente aconteceu, e corresponde à porção factual do filme.
Legat e Paul trabalham para os seus respectivos governos e estão próximos dos seus líderes de Estado. Então, o que move a trama é a tentativa de Paul, agora contrário ao nazismo, de entregar um documento confidencial para que Legat faça chegar a Chamberlain. O objetivo é evitar que Chamberlain assine o tratado, pois Hitler possui planos expansionistas. Está nos registros da História que Chamberlain assinou não só o tratado conjunto, como também um acordo particular com Hitler que propunha que a Alemanha e a Inglaterra não entrariam mais em guerra. Ao retornar ao seu país, o primeiro-ministro exaltou o acordo e foi entusiasticamente aplaudido. Porém, Hitler não cumpriu o acordo e a Segunda Guerra Mundial teve início.
A direção
Como esses fatos são de conhecimento de todos, o filme investe na trama ficcional para entreter o público. O diretor alemão Christian Schwochow, debutando em um longa internacional, consegue criar o suspense em relação à passagem do documento sigiloso. Com menos eficiência, também coloca emoção na tentativa de Paul assassinar o Führer com seu revólver. Mas, isso não empolga tanto porque todos sabem que ninguém conseguiu matar Hitler para evitar a guerra.
Além disso, Schwochow conduz a narrativa com eficiência ao inserir os dois flashbacks com Paul, Legat e Lenya. O primeiro é importante para apresentar o vínculo entre os personagens antes da guerra. E o segundo é essencial para revelar o motivo da separação entre Paul e Legat. De qualquer forma, os dois flasbacks são necessários porque explicam por que Paul deixou de ser um nazista radical para fazer parte da oposição. E isso o filme mantém em segredo até Legat descobrir o que aconteceu com Lenya.
Conclusão frustrante
Até então, o público acompanha com atenção os protagonistas jovens em momentos cruciais para a humanidade. No entanto, a conclusão do filme decepciona, colocando toalhas quentes na oportunidade que Paul desperdiça quando teve chance de matar Hitler. Segundo o personagem, ele não tinha o direito de fazer isso. Similar tratamento recebe o primeiro-ministro Chamberlain, pois a última cartela afirma que sua tentativa diplomática criou o tempo necessário para a Inglaterra se preparar para a guerra. Para piorar, a conclusão não demonstra o que aconteceu com o documento secreto que Legat conseguiu levar para a Inglaterra.
Assim, Munique: No Limite da Guerra equilibra erros e acertos. Consegue cativar o espectador até certo ponto, mas, como vimos, degringola no final. Pelo lado histórico, vale a pena assistí-lo e, em seguida, ver O Destino de uma Nação (Darkest Hour, 2017), no qual Gary Oldman interpreta Winston Churchill, o primeiro-ministro que sucedeu a Chamberlain.
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Ficha técnica:
Munique: No Limite da Guerra | Munich: The Edge of War | 2021 | Reino Unido, Estados Unidos | 123 min | Direção: Christian Schwochow | Roteiro: Ben Power | Elenco: George MacKay, Jannis Niewöhner, Jeremy Irons, Liv Lisa Fries, Jessica Brown Findlay, Raphael Sowole, Mark Lewis Jones, Alex Jennings, Sandra Hüller, August Diehl, Nicholas Farrell, Hannes Wegener.
Distribuição: Netflix.