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Música para morrer de amor
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Música Para Morrer de Amor

Avaliação:
7/10

7/10

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Crítica | Ficha técnica

Música Para Morrer de Amor é uma conversa refinada sobre amores hetero e homossexuais nos lugares descolados de São Paulo.

No primeiro dia do novo estágio de Felipe na Secretaria da Cultura, Ricardo imediatamente se apaixona por ele. Dessa forma, repete seu padrão de comportamento que o leva a transar seguidamente com vários homens diferentes. Ricardo se aproxima de Felipe, mas o jovem está encantado com uma colega das aulas de dança, Isabela, que era a melhor amiga de Ricardo, até brigarem feio. Isabela passa por um momento difícil, depois que seu namorado rompe com ela após se mudar para o Rio de Janeiro. O relacionamento entre os três alterna entre o recuo e o avanço, enquanto cada um enfrenta experiências que os transformam.

Origem teatral

O diretor e roteirista Rafael Gomes adapta para o cinema sua peça de teatro “Música Para Cortar os Pulsos”. Assim,  transporta para a tela os diálogos inteligentes e autênticos que elevam o filme Música Para Morrer de Amor a um patamar sofisticado. Ou seja, os personagens são cultos e transitam por espaços descolados da capital paulista. E eles ganham profundidade porque o filme não se restringe a focá-los apenas quanto ao relacionamento entre eles, mas também em suas buscas interiores e nos relacionamentos com outras pessoas, como a família ou outros amigos íntimos. Vale destacar aqui a ótima presença de Denise Fraga como a mãe de Felipe.

Apesar da origem teatral do roteiro, e da migração dos atores Mayara Constantino e Victor Mendes do palco para a tela, Música Para Morrer de Amor possui uma linguagem genuinamente cinematográfica. Nesse sentido, a narrativa não é linear, a trama principal é entrecortada por sequências de flashback, que explicam os fatos que antecederam alguma situação atual. Os diálogos, em alguns trechos, se sobrepõem a uma montagem com várias cenas curtas que ora revelam o passado de um relacionamento recente, ora aceleram o ritmo para descrever a evolução de uma nova relação atual. Mesmo fora de ordem cronológica, é fácil identificar a posição no tempo dessas sequências.

A direção

O diretor Rafael Gomes não utiliza tanto os recursos gráficos como fez em seu filme anterior 45 Dias Sem Você. Naquele filme, ele os utilizava para evidenciar o tempo de cada etapa daquela jornada com limite pré-definindo. Por outro lado, recorre aqui ao efeito de colocar na tela algumas conversas via chat no celular. Adicionalmente, mostra outras ações no aparelho, como Isabela deletando todas as imagens e vídeos do antigo namorado, revelando sua intenção de superar o rompimento. Essa cena é seguida de um plano em slow motion da personagem dançando feliz em uma festa, selando essa atitude.

Outros trechos sublinham o talento do diretor. O uso do fade out vagaroso que encerra a sequência da forte discussão entre Ricardo e Felipe conduz o espectador a compartilhar o sentimento de vazio após esse momento de forte tensão. O recurso visual é aproveitado, por exemplo, na cena em que Isabela apaga o “eu te amo” escrito pelo ex-namorado nos azulejos do banheiro. Aliás, essa cena remete àquela do personagem Fábio de 45 Dias Sem Você tentando apagar as pichações nos muros da cidade de Coimbra.

Relacionamentos gays

Há uma diferença entre Música Para Morrer de Amor e seu filme anterior na abordagem em relação ao universo LGBT. Os relacionamentos gays de 45 Dias Sem Você podiam ser substituídos por heteros sem nenhum prejuízo para o roteiro. Mas nesse novo filme a homossexualidade no relacionamento entre Ricardo e Felipe é essencial para a trama. De fato, é o principal aspecto que conduz à harmonia entre os três protagonistas na conclusão.

Música Para Morrer de Amor solidifica algumas características do cinema de Rafael Gomes. Personagens bem construídos, autênticos e que enfrentam conflitos internos e de relacionamento transitam em seu universo fílmico por lugares culturalmente interessantes e rodeados de amigos descolados LGBTS, onde todos se expressam através de falas inteligentes. Essa é a nossa leitura desse promissor início de carreira no cinema deste novo diretor e roteirista.


Música para morrer de amor
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