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Nada de Novo no Front (filme)
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Nada de Novo no Front | Por Sérgio Alpendre

Avaliação:
6/10

6/10

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Crítica | Ficha técnica

Para muitos, refilmar é trair, desrespeitar, aviltar o original. Já pensei de modo semelhante. Lembro que Billy Wilder ficou muito chateado quando Sydney Pollack refilmou Sabrina (1954) em 1995. Teria dito a ele, mais ou menos assim: “um dia irão refilmar Nosso Amor de Ontem (The Way We Were, 1973), você entenderá o que eu sinto”. Pollack morreu antes de ver isso acontecer, e não sabemos se acontecerá algum dia. Talvez porque sua estatura nunca chegou perto da de Wilder.

Penso que tamanha reverência não faz bem, e todo e qualquer filme possa ser refeito, relido ao sabor de novos tempos, ter uma outra visão dos acontecimentos que narra. Se prestar para pouca coisa, será ao menos para fazermos a lição de casa revendo o original, o que já é um bom exercício.

Nada de Novo no Front

Isto para chegarmos a Nada de Novo no Front (Im Western Nichts Neues, 2022), refilmagem alemã de Sem Novidade no Front (All Quiet on the Western Front, 1930), de Lewis Milestone. Falamos em refilmagem, mas na verdade é uma nova versão cinematográfica do livro de Erich Maria Remarque publicado em 1929. E esta nova versão reflete os sabores de seu tempo.

Se o filme de Milestone era mais uma obra hollywoodiana, entre tantas da segunda metade dos anos 1920 até início dos anos 1950, influenciada pelo expressionismo alemão e pelo cinema de F.W. Murnau (notem a mobilidade da câmera e os enquadramentos dominados por objetos em primeiro plano), tornados fontes básicas até pelo livro original ser alemão, este novo parece gozar da possibilidade de filmar a violência sem censura para promover um exercício de sadismo com o espectador. A guerra é suficientemente pesada para tornar desnecessário qualquer exagero na representação dos confrontos físicos. Mas o diretor Edward Berger parece determinado em mostrar todo o horror de um rosto sendo esmagado por um capacete, de uma bomba arrebentando o maxilar de um homem, de pernas e braços decepados ou de um suicídio com um garfo dado junto com uma colher para tomar uma sopa (que ideia de jerico, convenhamos).

Composições de ontem e de hoje

Ou seja, em 1930, a preocupação com mise en scène, com as composições dos enquadramentos, com os jogos de luz e sombra e com outros procedimentos cinematográficos faziam com que um filme bem feito, com bom orçamento e um diretor que não estragasse o roteiro fosse bem mais do que visível. Hoje, qual seria a fonte? YouTube? Tik Tok? Imagens das mais diversas poluem nossas mentes e fazem um bom estrago em nossas capacidades de compor visualmente um plano. Os filtros do Instagram parecem nortear a pictorialidade das imagens deste filme e de muitos outros.

No filme de Milestone, por exemplo, tem uns quatro ou cinco planos que imitam muito bem o aspecto visual de Aurora (Sunrise, 1927), a obra-prima que Murnau filmou em Hollywood. Imitar, no caso, é uma limitação pequena. Como o impacto visual conseguido por Milestone é grande, aceitamos essa imitação sem culpa. Esses e outros planos belíssimos fazem o filme valer, mesmo que não tivesse muitas coisas mais. E até tem algumas, apesar dos diálogos deslocados, como notava Peter Bogdanovich num texto em que enaltece Howard Hawks, cujos aventureiros brindam ao próximo que morrer em vez de filosofar sobre a fome e a guerra.

Pobreza estética

No longa atual, temos o quê? Diálogos menos literários, é verdade. Há algo de interessante na amizade do soldado alemão Paul (Felix Kammerer) com companheiros de batalhão. Sentimos a dureza da guerra e o efeito na mente dos jovens que a lutam. Enquanto isso, engravatados e militares condecorados discutem para ver se o conflito continua ou não. A Primeira Guerra Mundial era a guerra das trincheiras, do avanço gradual de território. O filme é parcialmente bem sucedido ao mostrar como era aquela guerra, beneficiado (ou atrapalhado) pela possibilidade de trabalhar as cenas com altas doses de violência, sem muito espaço para as sugestões. Quando tudo se mostra, pouco ou nada se esconde e a pobreza estética se manifesta.

Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.

Ficha técnica:

Nada de Novo no Front | Im Westen nichts Neues | 2022 | 148 min | Direção: Edward Berger | Roteiro: Edward Berger, Lesley Paterson, Ian Stokell | Elenco: Felix Kammerer, Albrecht Schuch, Moritz Klaus, Aaron Hilmer, Edin Hasanovic, Daniel Brühl, Adrian Grünewald, Devid Striesow.

Onde assistir "Nada de Novo no Front":
Nada de Novo no Front (filme)
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