O filme mexicano Não Nos Moverão estreia no Brasil dentro da 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. O primeiro longa de Pierre Saint Martin Castellanos disputa na mostra a Competição de Novos Diretores.
Rodado em preto e branco, Não Nos Moverão apresenta Socorro (Luisa Huertas), uma advogada veterana que trabalha em casa. A morte de seu irmão, durante o massacre estudantil de Tlatelolco, na Cidade do México, ainda a atormenta. Embora viva com sua irmã, com o filho e a nora, a cabeça de Socorro está na busca pela justiça pelo assassinato do irmão. A oportunidade para isso chega quando ela recebe um pacote que identifica o soldado responsável pela tragédia. Então, ela resolve enveredar por um plano de vingança criminoso.
A trama, em si, se resolve nessa decisão, ainda na primeira metade do filme. Depois, custa a se desenrolar. A estória não se move, e parece que a protagonista nunca vai colocar em prática o seu plano. Personagens interessantes – a nora e o mensageiro de Socorro – saem de cena. Quando, enfim, chega o momento do grande clímax, a experiência decepciona. O sequestrador sai do local sem dizer nada, de maneira tremendamente artificial, e o confronto se enfraquece com identidade errada e mal súbito, ainda por cima filmado com uma câmera lenta que dilui ainda mais a pouca emoção dessa cena.
As imagens que valem a narrativa
Em compensação, a direção de Castellanos injeta uma qualidade que pode animar o espectador que valoriza a forma. Para começar, a fotografia em preto e branco reforça a ideia de que Socorro ainda está presa ao passado, à morte do irmão nos anos 60. A janela redonda de uma porta interna do apartamento e o espelho no mesmo formato igualmente remetem ao sentido de estar preso dentro de um círculo.
A metáfora com o gato e o pombo permeia todo o enredo. O gato simboliza aquele soldado do massacre, e o pombo sua vítima. Assim, Socorro espanta para longe o bichano que está na janela do condomínio, enquanto resolve acolher uma pomba em sua casa. Então, repetindo o que aconteceu na tragédia, o gato mata a pomba. Logo, a protagonista se vinga envenenando o felino, tal qual o seu plano de retaliação. Perto do final, vários pombos estão no apartamento, representando as vítimas que cobram dela a vingança tal como prometida.
Castellanos, além disso, conecta o início e o fim do arco da estória. Na abertura, a irmã de Socorro deixa queimar o pão do café da manhã, como faz todos os dias. As duas não se dão bem, o que fica ainda mais evidente ao longo do filme. Mas, no final, a irmã finalmente conversa com a protagonista. Quando Socorro come o pão, novamente queimado, que a irmã lhe oferece, fica entendido que ela, depois da frustrada experiência da vingança, decide aceitar as coisas como elas estão.
Não Nos Moverão, portanto, é um daqueles filmes que valem mais pela forma que pelo conteúdo. O roteiro não sai do lugar, mas a direção compensa.
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Ficha técnica:
Não Nos Moverão | We Shall Not Be Moved / No Nos Moverán | 2024 | 94 min. | México | Direção: Pierre Saint Martin Castellanos | Roteiro: Pierre Saint Martin Castellanos, Iker Compean Leroux | Elenco: Luisa Huertas, Rebeca Manríquez, José Alberto Patiño, Pedro Hernández, Agustina Quinci, Juan Carlos Colombo.