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Poster do filme "Ninguém Sai Vivo Daqui"
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Ninguém Sai Vivo Daqui

Avaliação:
5/10

5/10

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Crítica | Ficha técnica

Para um filme inspirado num livro chamado “Holocausto Brasileiro”, Ninguém Sai Vivo Daqui parece ameno demais. Nesse livro, escrito pela jornalista Daniela Arbex, constam fotos publicadas na revista Cruzeiro nos anos 1960 que são terrivelmente chocantes. Elas registram as condições subumanas do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena, em Minas Gerais. Neste local, conhecido como Colônia, mais de 60 mil internos morreram, e muitos de seus corpos foram vendidos para faculdades de Medicina.

Portanto, o termo “holocausto” parece correto para descrever esse local de horrores. As mencionadas fotos comprovam essa afirmação, mas o filme de André Ristum não passa para as telas o inferno que foi esse centro hospitalar. A começar pela fotografia em preto e branco, clara demais para esse ambiente tão sombrio. O branco, em muitas cenas estourado, se sobressai e aproxima o lugar a um hospital propriamente dito, o que a instituição estava longe de ser. Além disso, o local não parece tão sujo quanto devia ser (as citadas fotos flagraram doentes cobertos de moscas), e os pacientes parecem asseados demais – os protagonistas, aliás, estão sempre bonitos na tela.

A trama fictícia

O enredo, fictício, acompanha Elisa (Fernanda Marques), que chega ao hospício em 1971. Os próprios pais a enviaram para esse centro, como punição por ter ficado grávida do namorado quando já estava prometida para outro homem. Esse motivo explica o desfecho de sua história, numa tentativa do roteiro de universalizar esse tipo de internação, muito comum na história da Colônia.

A trama pega leve demais com a protagonista na metade inicial. Apesar da óbvia falta de liberdade, e do risco de morte logo nos primeiros dias (que ela incrivelmente tira de letra), o filme não a mostra sofrendo. Nem mesmo nos trabalhos forçados – ela e os demais pacientes nunca parecem reclamar ou padecer na lavoura.

A situação muda quando Elisa tenta uma fuga, logo frustrada, com a morte de uma amiga e a sua captura. Como punição, Elisa é torturada com choques elétricos – sem que o filme explore seus sofrimentos. No meio dos planos curtos, um deles deixa a dúvida se ela abortou; e seria importante deixar esse fato evidente, mas só depois é que o filme vem a esclarecer. Ainda assim, ela começa a enlouquecer, realmente, na parte final.  

No filme, o vilão é a instituição como um todo, o que enfraquece a dramaticidade. Mas, um dos chefes enfermeiros assume a posição de vilão principal, desde o início tentando molestar a protagonista. Representa, assim, uma boa solução para criar um temor concreto do público em relação ao bem-estar dessa personagem. Porém, não faz sentido que os demais da equipe do hospício sejam bonzinhos.

Da série para o filme

Em tempo, deve-se esclarecer que o longa é uma condensação da série Colônia (2021), de dez capítulos. O novo formato permite que a história ganhe um ritmo mais intenso. Por isso, é fácil assistir ao filme, que transcorre de forma fluída. No entanto, as lacunas que ficaram de fora atrapalham, principalmente, a construção dos personagens secundários. Muitos deles morrem, mas, como não foram devidamente desenvolvidos, não causam comoção quando partem.

Enfim, o maior erro mesmo de Ninguém Sai Vivo Daqui (título que o próprio enredo desmente) é não criar o clima de horror que o local representou. Como o livro da jornalista demonstra, o filme não mostra todas as atrocidades que aconteceram nesse local hediondo.

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Ficha técnica:

Ninguém Sai Vivo Daqui | 2023 | Brasil | 86 min | Diretor: André Ristum | Roteirista: André Ristum, Marco Dutra, Rita Gloria Curvo | Elenco: Fernanda Marques, Augusto Madeira, Andréia Horta, Rejane Faria, Naruna Costa, Aury Porto, Arlindo Lopes, Bukassa Kabengele.

Distribuição: Gullane+.

Assista ao trailer aqui.

Cena do filme "Ninguém Sai Vivo Daqui"
Cena do filme "Ninguém Sai Vivo Daqui"
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