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No Ritmo do Coração (filme)
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No Ritmo do Coração

Avaliação:
8/10

8/10

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Crítica | Ficha técnica

O comovente No Ritmo do Coração (CODA, 2021) aborda a deficiência auditiva sob uma nova perspectiva. Refilmagem do francês A Família Bélier (La Famille Bélier, 2014), o longa nos apresenta Ruby (Emilia Jones), uma adolescente cujos pais e o irmão são surdos. Ela é uma CODA (Child Of Deaf Adults), termo do título original que se conecta com outro ponto da trama, pois também significa a seção final de uma música.

Por ironia, Ruby adora cantar, o que surpreende a família, que não pode ouvir música. Mas, não é por causa de seu hobby que ela se inscreve no coral da escola. Na verdade, o motivo é se aproximar de seu crush, o garoto chamado Miles (Ferdia Walsh-Peelo). Logo, o engajado professor do coral, Bernardo Villalobos (Eugenio Derbez), enxerga o talento de Ruby. Então, resolve ajudá-la a entrar na Faculdade de Música de Berkley, e exige que ela se dedique. Contudo, por mais que ela deseje estudar música, Ruby precisa continuar ajudando sua família a sobreviver da pesca.

Este é o segundo longa escrito e dirigido por Sian Heder, que fez antes Tallulah (2016), com Elliot Page como protagonista. Em No Ritmo do Coração, Hederconsegue comover com a fórmula do drama musical porque constrói personagens consistentes. A protagonista Ruby possui a densidade necessária para compreendermos o seu dilema. Através da música, ela pode romper o estigma de pertencer a uma família de surdos, fato que resulta no bullying na escola. As chacotas contra ela criaram um trauma e, por isso, ela foge na primeira aula do coral com medo de a turma rir dela quando cantasse.

Uma família unida

Por outro lado, a deficiência sedimentou uma relação muito forte dentro da família de Ruby. A união entre ela, o pai (Troy Kotsur), a mãe (Marlee Matlin) e o irmão (Daniel Durant) possui uma conexão tão evidente que faz Miles invejá-la. No entanto, isso resulta em códigos próprios, mais específicos do que a linguagem de sinais oficial, e piadas internas. Isso tudo protege a família, mas também afasta do restante da comunidade.

Assim, o coda musical se conecta com o fim da adolescência e da fase escolar de Ruby, e, também, com o momento de virada em sua família. A iminente partida da filha que não possui deficiência auditiva significa que os demais membros precisam aprender a se virar sem o apoio dela. Ao mesmo tempo, eles reconhecem que não podem ser uma âncora para os sonhos dela. Além disso, o filme ainda expõe outra camada dessa situação, que representa a exposição das suas ideias perante a comunidade de pescadores sufocada pelo atravessador. Nesse quesito, o pai, a mãe, o irmão de Ruby aprendem a se desvencilhar dos freios autoimpostos pela incapacidade de ouvir e falar. Com isso, podem colocar em marcha a proposta de transformar o negócio da pesca local.

Momentos de reflexão

Tudo isso entra na narrativa com uma carga emocional elevada. Como acontece nos melhores dramas, isso não é encarado com pobreza dramática. Pelo contrário, vem com a riqueza dos momentos que convidam à reflexão. Assim, na apresentação na escola, os pais de Ruby desdenham a música cantada em grupo por todos os integrantes do coral. Como não ouvem a canção, preferem conversar entre si sobre assuntos periféricos. Porém, quando ela canta em dueto com Miles, eles percebem a alegria da filha e querem se conectar. Então, o filme suprime o som para o espectador se colocar no lugar dos pais, e perceber o quanto é difícil para eles sentirem o que Ruby transmite. Depois, em casa, o pai pede a Ruby que ela lhe explique a letra da canção.

A experiência dessa noite se encaixa com a audição de Ruby para entrar na Berkley. A família entra no local escondida, e quando Ruby percebe a presença deles, começa a comunicar com gestos a letra que canta. Clímax emocional do filme, esse momento emocionante simboliza a conexão aparentemente impossível do amor pela música e do amor pela família. Na verdade, eles todos percebem que há mais possibilidades do que a vida que levavam.

E, de fato, Ruby se sentia tão presa à família que, quando o professor lhe pergunta o que ela sente quando canta, ela não consegue se expressar em palavras, nem pela linguagem dos sinais. Agora, ela é capaz de se expressar nas duas formas que representam seus grandes amores: a música e a família.

Elenco

Por fim, vale ainda apontar que gera credibilidade o fato de os atores que interpretam o pai, a mãe e o irmão de Ruby serem atores realmente surdos. E, claro, todos bons atores. Marlee Matlin, inclusive, já ganhou um Oscar de melhor atriz por Filhos do Silêncio (Children of a Lesser God, 1986). Ao seu lado, está Troy Kotsur, de Wild Prairie Rose (2016). Curiosamente, Marlee e Troy já interpretaram um casal, em um dos episódios da série CSI: Nova York, em 2006. Por fim, para Daniel Durant, o papel do irmão de Ruby é a sua maior exposição na tela, até o momento.


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