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Noites de Cabíria (filme)
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Noites de Cabíria

Avaliação:
10/10

10/10

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Crítica | Ficha técnica

Em “Noites de Cabíria”, Federico Fellini pinta com tintas chaplinianas um quadro comovente dos habitantes periféricos na Roma dos anos 1950. Para isso, conta com a essencial colaboração de sua esposa Giulietta Masina no papel da protagonista Cabíria.

A trama

A profissão de prostituta da personagem do título não a impede de ser romântica, mesmo que a realidade cruel insista em golpeá-la constantemente. Aliás, como mostra a sequência inicial, em que seu recente namorado a leva até a beira de um rio, onde rouba sua bolsa e a empurra para dentro das águas. Então, Cabíria sobrevive do afogamento, não pelas mãos dos homens que apenas gritam por socorro, mas por três meninos que espontaneamente saltam no rio para resgatá-la. Dessa forma, sintomaticamente, as crianças representam a ingenuidade que gera a esperança, a única salvação para Cabíria, como a estória demonstrará.

O filme acompanha Cabíria durante alguns dias. Ela vive situações bizarras, como passar a noite escondida no banheiro da suíte de um ator famoso, por causa da inesperada chegada da esposa dele. Depois, contrapondo o luxo da vida dessa celebridade, Cabíria testemunha a ação de um homem caridoso que distribui alimento aos habitantes de grutas na periferia de Roma. Entre elas, uma ex-colega de profissão, que, envelhecida, perdeu sua fonte de receitas. Esse encontro desperta em Cabíria a necessidade de mudar de vida, para não ter o mesmo destino.

Religião católica

Por outro lado, Fellini injeta sua crítica ao catolicismo, que desponta para Cabíria como uma possível solução. Ela e suas amigas se dirigem a uma igreja onde está a imagem de Nossa Senhora para suplicar por uma vida melhor. O sarcasmo do diretor ousa até a fazer piada sobre o tamanho e formato das velas da igreja. Além disso, de maneira mais sutil, e mais cinematográfica, um plano do alto mostra o megafone da igreja em primeiro plano engolindo os fiéis que estão à distância.

Logo, Cabíria sai da igreja descrente e demonstra revolta. Porém, depois de alguns dias, encontra um rapaz chamado Oscar, com quem se afeiçoa e, após alguns encontros pudicos, ele a pede em casamento. Ela vende tudo que tem, até sua modesta casinha, e parte para se encontrar com o noivo.

Então, o que veremos é um dos momentos mais emocionantes da história do cinema. Afinal, depois de já termos acompanhado a protagonista por todo o filme, ela já nos conquistou. Por isso, somos solidários a ela. Assim, antecipamos sua angústia, desconfiamos se sua ingenuidade não a conduz para um golpe armado por Oscar, que nem nós, nem tampouco Cabíria, conhecemos bem. Por ela, tememos que tudo dê errado. Então, não só torcemos, mas queremos acreditar que o final desse encontro será feliz. Na verdade, somos, nesse momento, tão ingênuos quanto ela. Por fim, essa cumplicidade se expressa no olhar que Cabíria dirige diretamente para a câmera no final do filme, um olhar que busca apoio de nós, espectadores.

Giulietta Masina

Giulietta Masina, uma mulher pequena e com fisionomia simpática, sem a beleza das atrizes celebridades, é a perfeita encarnação de Cabíria. Munida de talento para mímica, ela traduz o sentimento agridoce da estória. Assim como Charles Caplin, ela é o palhaço que também faz chorar.

Giulietta foi parceira de seis filmes de seu marido. Em seu livro “Fazer um filme”, Fellini diz dela: “(…) Ela é um tipo de atriz que se adapta bem às minhas intenções, a meus gostos: o rosto, o comportamento, as expressões, os tons. (…) é uma atriz que usa mímicas, cadências, como os palhaços(…)”.

Em suma, “Noites de Cabíria” é um dos mais belos filmes da rica filmografia de Federico Fellini. Na vida real, o filme conquista o que sua personagem Cabíria tem esperança de conseguir: o seu Oscar. A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas premiou-o como o melhor filme estrangeiro do ano.


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