A partir de uma tragédia numa escola, Nossas Crianças abraça as discussões que surgem no seu entorno. Através de cenas longas, o filme apresenta as argumentações dos envolvidos, sem se apressar para apresentar soluções superficiais.
O incidente acontece durante o intervalo de uma aula, no campo de futebol de uma escola em Oslo, Noruega. Nathalie, também chamada de Lykke ou Anne, causa a morte do colega de classe Jamie. Não vemos o fato, apenas o garoto caído no gramado, rodeado pelos adultos, num plano geral, e o socorro chegando.
A diretora da escola Liv logo convoca uma reunião com os professores e principais funcionários. Outras reuniões em grupo, e conversas particulares, surgem durante o filme. Há uma consciente preocupação em expor as opiniões dos personagens, principalmente quando entram em choque. Nesse sentido, existe uma oposição política entre o pai de Lykke, membro do Partido Trabalhista, e Per Erik, pai de Jamie que é da extrema direita. Porém, nunca ocorre um confronto entre os dois, que só se encontram no epílogo e por acaso.
Interrelações
Gradativamente, Nossas Crianças revela as interrelações pessoais entre os membros desse microcosmo formado pelos funcionários da escola e os pais dos alunos. Com isso, os impactos da morte de Jamie se tornam ainda mais relevantes. Para começar, a diretora Liv está namorando o pai do garoto falecido. E, Anders, o irmão dela é o professor de língua norueguesa que, por descuido, não estava no local do incidente, como deveria estar. Quando este professor, que é gay, tem uma conversa privada com o extremista Per Erik, surgem algumas evidências de que esse pai estimulava a competitividade de Jamie. E, isso é o que ocasionou a discussão com a colega Lykke.
Por outro lado, o filme mostra as dúvidas dos pais de Lykke sobre como proceder para que ela entenda a gravidade de seu ato, sem que isso se transforme num trauma. Nessa questão, Per Erik deseja que a menina sofra e que carregue esse peso durante todo o resto de sua vida. De fato, quando ele a encontra sozinha no estacionamento da escola, ele a agride verbalmente. Então, logo após essa acareação explosiva, ele percebe que Lykke é apenas uma criança.
Várias questões
Além disso, outros temas importantes surgem ao longo do filme. Entre eles, o questionamento de Liv se sua paixão por Per Erik suplanta as diferenças ideológicas do casal. Já o seu irmão Anders nota que precisa amadurecer. Não só porque teve receio de assumir publicamente que cometeu um erro por se ausentar da quadra onde viria a acontecer a tragédia. Mas, também, em assumir um compromisso sério com seu namorado, e, até, porque é muito permissivo com seus alunos em sala.
Dessa forma, Nossas Crianças se compõe de situações e personagens profundos e multidimensionais. E, como acontece dentro do filme, propõe debates de ideias civilizados sobre vários temas importantes. Afinal, como as crianças vivenciam, qualquer agressão física pode levar a uma tragédia.
Este quinto longa-metragem do diretor Dag Johan Haugerud recebeu vários prêmios em festivais. Entre eles, os de melhor filme nórdico e melhor atuação (para Henriette Steenstrup) no Göteborg Film Festival.
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Ficha técnica:
Nossas Crianças | Barn | 2019 | Noruega, Suécia | 157 min | Direção e roteiro: Dag Johan Haugerud | Elenco: Henriette Steenstrup, Jan Gunnar Røise, Thorbjørn Harr, Brynjar Åbel Bandlien, Andrea Bræin Hovig, Hans Olav Brenner, Anne Marit Jacobsen, Ella Øverbye, Trine Wiggen, Adam Pålsson, Selome Emnetu.
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